Apostando no multilateralismo: o legado brasileiro no G20 e as visões da imprensa

Ano V, nº 90, 04 de dezembro de 2024


Por Bruno Fabricio Alcebino da Silva, Giulia Monfredini, Isabella Lucino, Ismara Izepe de Souza, Lucca León Franco, Maria Eduarda Brito e Tiago Amadei Navarro Barbiellini (Imagem: Ricardo Stuckert/ Agência Brasil)


O G20 constitui uma oportunidade para os países não apenas discutirem problemas e definirem possíveis soluções, mas também para testar sua influência e presença no cenário global. A presidência brasileira no G20, além de mostrar ao mundo a importância das pautas sociais, se caracterizou pela aposta na sobrevivência de um combalido multilateralismo, podendo esse ser considerado um dos maiores legados da política externa do terceiro governo Lula até o presente momento.


G20: um pouco de história


Criado em 1999, o G20 surgiu como resposta à crise financeira asiática de 1997, responsável por mostrar a necessidade de maior articulação entre as maiores economias internacionais, incluindo os países pertencentes ao que se convencionou chamar de Sul Global. Em sua origem, o grupo reunia os ministros das finanças e presidentes de bancos centrais de 19 países e da União Europeia, que juntos representavam mais de 80% do PIB global e dois terços da população mundial. O grupo foi concebido como um fórum de diálogo entre economias avançadas e emergentes, com ênfase na estabilidade financeira, no crescimento sustentável e na prevenção de crises futuras.


A crise financeira global de 2008 alterou a  composição original do grupo, que tornou-se fórum presidencial, com o objetivo de coordenar uma resposta mais forte e politicamente respaldada à crise. O colapso do mercado imobiliário nos Estados Unidos levou à falência de bancos relevantes e provocou uma recessão global. Diante disso, tornou-se urgente a implementação de reformas no sistema financeiro e a tomada de ações coordenadas entre os países membros.


O G7, composto apenas por economias avançadas (Canadá, França, Alemanha, Itália, Japão, Reino Unido e Estados Unidos), foi considerado insuficiente para desenvolver respostas adequadas à crise, que tomava proporções globais. A inclusão de líderes de economias emergentes tornou-se essencial, já que os impactos da crise afetaram o mundo todo, incluindo os países  em desenvolvimento. Assim, o G20 passou a envolver os chefes de Estado e de Governo, ampliando a representatividade e a capacidade de coordenação internacional para enfrentar os desafios da crise global de forma mais rápida e eficaz.

A primeira cúpula presidencial do G20 aconteceu em novembro de 2008, em Washington. A implementação de pactos de estímulos econômicos, reformas de instituições financeiras e a introdução de novas regulamentações para prevenir futuras crises foram alguns dos resultados alcançados na reunião, que marcou o grupo  como um fórum de cooperação econômica sólido. A partir daí, as reuniões passaram a ser anuais, garantindo maior peso político para o grupo e visibilidade global.


Com a mudança para fórum presidencial, o G20 adotou um sistema de presidência rotativa, envolvendo contatos entre o país que preside o encontro, o anterior e o próximo a presidir, garantindo além de uma transição fluida, a manutenção de alguns temas considerados permanentes na agenda.  Com o passar dos anos e com novos desafios surgindo no âmbito internacional, os temas de debate foram ampliados. O grupo, que inicialmente nasceu com o objetivo estritamente econômico, atualmente também discute a agenda ambiental, o desenvolvimento social, a segurança alimentar e a saúde global – principalmente após a pandemia da COVID-19 -, e até mesmo questões envolvendo os avanços tecnológicos e a ética em torno deles. Dessa forma, o G20 se estabeleceu nos últimos anos como o principal fórum de cooperação econômica internacional, se destacando pela capacidade de reunir tanto economias desenvolvidas como emergentes para abordar os mais diversos desafios globais. 


G20 no Brasil: legado brasileiro e documento final


Pela primeira vez o Brasil assumiu a presidência do G20, coordenando, desde dezembro de 2023, mais de 100 reuniões de grupos de trabalho que culminaram com a cúpula de líderes ocorrida na cidade do Rio de Janeiro nos dias 18 e 19 de novembro de 2024.  A presidência brasileira no G20  veio em ótimo momento para o Brasil, visto que uma das marcas dos governos anteriores de Luiz Inácio Lula da Silva foi a valorização de espaços multilaterais e a busca pela ampliação da influência do Brasil como um grande ator no cenário internacional. Uma das promessas de Lula para seu novo governo foi a de fugir do  isolacionismo praticado pelo governo de Jair Bolsonaro, marcado por posicionamentos contra o combate às mudanças climáticas e atitudes que reduziram a influência brasileira em fóruns multilaterais.


Assim, presidir o G20 apresentou-se como uma boa oportunidade para o Brasil resgatar seu prestígio internacional, já que o país pôde pautar temas de seu interesse e dar visibilidade às suas demandas em direção a uma liderança social, climática e sustentável. O Estado brasileiro definiu três eixos que deveriam ser debatidos com prioridade no G20: combate à fome, à pobreza e à desigualdade; sustentabilidade, mudanças climáticas, transição energética e a reforma da governança global. O Brasil pode influenciar os rumos da transição climática daqui para frente, uma vez que o país é um dos líderes nessa discussão, com uma matriz de energia limpa que chega a 50%. Esses esforços visam não apenas reconstruir a imagem do Brasil, mas também fortalecer sua atuação como intermediador entre economias desenvolvidas e em desenvolvimento, buscando conciliar interesses diversos em prol de soluções sustentáveis e equitativas.


Uma das grandes inovações trazidas pelo governo brasileiro foi o G20 Social, anunciado pelo presidente Lula, em 2023, na 18ª Cúpula de Chefes de Governo e Estado do G20, em Nova Délhi, quando a Índia passou ao Brasil a presidência do bloco. Essa iniciativa contou com ampla participação da sociedade civil em atividades e atos decisórios, com o objetivo de trazer voz às suas demandas. O G20 Social representou um esforço pioneiro para democratizar as discussões globais, reforçando a importância de integrar demandas locais em um cenário de decisões globais, especialmente em áreas como trabalho decente, direitos sociais e equidade. Este é um passo importante para a inclusão da sociedade em pautas que definem o seu futuro, de modo que caminhamos, mas infelizmente de forma ainda lenta, para um processo decisório que não seja realizado apenas por líderes globais. 


O corpo diplomático brasileiro teve um trabalho árduo na conquista dos acordos que foram  realizados durante as negociações que antecederam à cúpula. A prioridade foi lutar por entendimentos sobre uma transição energética justa, o financiamento climático sustentável e a criação da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza. Porém, tensões geopolíticas, como a guerra na Ucrânia, trouxeram dificuldades para um consenso global, principalmente dos países europeus que exigiram uma maior condenação da Rússia no documento final. Após o Brasil não ceder a uma reabertura do documento com medo de um boicote russo, o texto final do G20 condenou a guerra na Ucrânia e seus impactos, mas sem citar a Rússia diretamente. 


A declaração final da Cúpula do G20, sob a presidência do Brasil, representa um marco histórico ao propor uma agenda ambiciosa para enfrentar crises globais e promover o desenvolvimento sustentável. Ancorado no lema “Construindo um mundo justo e um planeta sustentável”, o texto enfatiza a necessidade de cooperação internacional para combater desigualdades, fome, mudanças climáticas e crises socioeconômicas.


Um dos principais legados brasileiros foi o lançamento da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, que reúne 148 adesões, incluindo 82 países, com o objetivo de erradicar a fome até 2030. A iniciativa propõe estratégias como transferências de renda, alimentação escolar e práticas agrícolas sustentáveis, além de destacar que a fome é fruto de decisões políticas excludentes.


O Brasil também reforçou sua liderança ao propor reformas na governança global, como a ampliação do Conselho de Segurança da ONU e reconheceu a importância da União Africana (composta por 55 países) participar pela primeira vez como membro pleno do grupo. Essas propostas refletem a urgência de adaptar as instituições multilaterais às realidades do século XXI, promovendo representatividade e eficácia.


Na área ambiental, o documento reafirma o compromisso com a neutralidade de carbono até meados do século XXI, a ampliação de energias renováveis e o combate à poluição plástica. Ressalta também a importância do apoio aos países em desenvolvimento para uma produção agrícola sustentável e a transição energética, com foco na cooperação internacional e financiamento climático.


A declaração reconhece ainda a necessidade de mobilizar recursos para saneamento básico e acesso à água potável, além de promover igualdade de gênero, incluindo a proteção contra violência e misoginia, e enfatizar o papel das mulheres na economia.


Outro ponto de destaque foi a governança da inteligência artificial, com a criação de uma força-tarefa de alto nível e princípios para seu uso ético e seguro. A tributação progressiva dos “super-ricos” foi mencionada como uma medida para ampliar recursos financeiros globais.


A convocação de uma inédita Cúpula Social do G20 reforçou a integração da sociedade civil à agenda internacional, abordando justiça social e modelos econômicos inclusivos. Esse enfoque ampliou os horizontes da diplomacia tradicional, alinhando crescimento econômico a princípios de equidade.


A presidência brasileira do G20 consolidou o protagonismo do país como articulador global, unindo desenvolvimento humano, proteção ambiental e governança multilateral. O legado deixado pavimenta um futuro mais justo, inclusivo e sustentável, destacando a relevância do Brasil no cenário internacional. 


As visões da grande imprensa sobre o G20 e a política externa brasileira


A grande imprensa brasileira, protagonizada por jornais como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo e Grupo Globo, discutiu amplamente a presidência do Brasil no G20 em reportagens, editoriais e artigos de opinião. De modo geral, observou-se a presença de matérias elogiosas à atuação da diplomacia brasileira, havendo algumas críticas que serão esmiuçadas mais adiante. Nesse contexto, as maiores citações elogiosas ao Brasil focaram na  Aliança Global contra a Fome que, segundo O Globo, além do “êxito de se tornar a primeira iniciativa do G20 a incluir um programa dessa magnitude e de cunho social em suas esferas de ação, teve o mérito de ser apresentada ao mundo já com ações propostas, encaminhadas por governos para projetos específicos”. Outros jornais também respaldam essa afirmação, inclusive em análises e artigos de opinião, como é o caso de “Liderança brasileira no G20 e COP29 tem saldo a favor da união pelo possível”, de Ilona Szabó de Carvalho para a Folha de S. Paulo, que  também destacou que “o esforço político e diplomático brasileiro em exercer uma liderança responsável na presidência do G20 […] ganha maior significado num contexto de guerras e crescimento da extrema direita”.


No artigo de opinião publicado pela Folha de S. PauloDeclaração final do G20 enfrenta problemas globais num mundo ainda profundamente desigual”, o professor de direito internacional Lucas Carlos Lima atentou para o fato de que as decisões do G20 não são vinculantes do ponto de vista do direito internacional, mas considerou o grupo como um importante espaço de criação de consensos. O encontro, bem como a declaração final, foram destacados como uma grande vitória do multilateralismo por diversos colunistas. Nas reportagens da Folha observamos um reconhecimento dos esforços brasileiros na tentativa  de deixar um legado à história.


O jornal O Globo também ressaltou a massiva presença da sociedade civil no G20, uma iniciativa inédita da presidência brasileira. Em, “A sociedade civil propõe, cobra e deixa seu legado no G20”, ressalta-se que o  G20 Social buscou “dar voz à participação popular nos debates do fórum de cooperação internacional”. A presença do líder chinês no Brasil não passou despercebida dos grandes jornais. Em “Encontro de Lula e Xi Jinping mostra que relação Brasil e China ganha terreno”, o jornal O Estado de S. Paulo reconheceu a importância que as relações Brasil e China ganharam em um mundo em transformação. As visíveis críticas à diplomacia brasileira e ao documento final incidiram especialmente sobre o comportamento que o grupo deveria adotar em relação aos conflitos entre Ucrânia e Rússia e entre Israel e Palestina.  A Folha, por exemplo, em “Premiê alemão lamenta que G20 não tenha sido mais duro com Rússia e Hamas”, destacou a afirmação de  Olaf Scholz, sobre o documento final que, em sua avaliação, não foi claro sobre a responsabilidade por conflitos atuais. Uma fala da primeira-dama, Janja da Silva, também ganhou destaque no contexto das notícias sobre o G20. Em um evento durante a Cúpula, Janja fez  uma declaração agressiva a Elon Musk, dando ensejo a avaliações negativas sobre o seu ato.


Outras visões: a imprensa representativa da  extrema-direita e da esquerda 


Como era de se esperar, a imprensa representativa do campo político de esquerda elogiou a presidência brasileira no G20, considerada uma oportunidade  para o país mostrar o quanto pode contribuir para a construção de uma nova ordem econômica e política, para a justiça social e o desenvolvimento. O portal Brasil 247, por exemplo, destacou a firme liderança do presidente Lula na ampliação do protagonismo do país. Para o portal, que é considerado um braço de apoio dos governos petistas junto à opinião pública, a postura precisa do presidente foi primordial para a consolidação da liderança brasileira, especialmente nos temas que interessam ao Sul Global. 


A elevação das relações bilaterais e o fortalecimento da cooperação econômica estratégica entre Brasil e China foram muito destacados pelo referido portal, que ressaltou os benefícios do aprofundamento das relações a partir da existência de um histórico importante de cooperação, uma vez que, desde 2009, a China é a principal parceira comercial do Brasil. 

Em sentido diametralmente oposto, a imprensa representativa da  extrema-direita, como era de se esperar, classificou a cúpula como um fracasso diplomático. A Revista Oeste criticou todas as dimensões possíveis do encontro, começando pelo discurso inaugural do presidente Lula, taxando de mentirosos os dados apresentados sobre o combate à fome. A referida revista não noticiou as pautas centrais do G20, mas aproveitou o episódio da manifestação de Janja sobre Elon Musk para disparar críticas em tom desrespeitoso à atuação da primeira-dama na condução de um evento musical por ela organizado.


Oeste interpretou como um “fiasco retumbante” a coordenação brasileira dos trabalhos e acordos. Para seus editores, o encontro dos principais líderes mundiais não surtiu efeito algum para o país, afirmando haver incapacidade do Brasil de se articular corretamente na diplomacia. Houve também críticas à proposta brasileira de taxar os “ultra ricos”. Além de adotar julgamentos deste teor, a imprensa de extrema-direita também colocou em cheque o posicionamento do presidente da República sobre a questão da Palestina, afirmando que o silêncio de Lula confirmaria a condução errônea dessa questão por parte do Brasil. 


Para o leitor fiel da Oeste que não tem contato com as informações advindas da grande imprensa representativa da direita liberal fica a impressão de que o encontro não teve importância alguma para o país. A revista não destacou a presença das principais lideranças mundiais na cúpula, preferindo publicar matérias de teor irrelevante para a compreensão do que se passou no Brasil, como a que informou que a comitiva de Timor Leste foi assaltada no Rio ou a que relatou a gafe da apresentadora Ana Maria Braga que, sem seu programa de TV, chamou Joe Biden de Bin Laden.


A tentativa de encobrir a importância do evento e criticar vários âmbitos da atuação brasileira ficou evidente na reportagem “Lula e o pato manco Biden na alegria de pobre do G20 no Rio”. A matéria choca qualquer cidadão que tenha algum apreço pela imagem do Brasil. Os redatores sequer escolheram atacar Lula, porque se preocuparam, num tom quase de desespero, em afirmar a irrelevância brasileira. Depois de atacar Biden, se referindo a ele como “pato manco” por ter perdido as eleições, a reportagem dispara contra a China e o Brasil. Eis uma das frases mais contundentes nesse sentido e que demonstra desprezo pelo Brasil  “”Se o Brasil deixar de existir, apenas os porcos chineses sentirão falta da ração de soja, mas não por muito tempo. O Brasil ocupa um lugar central entre as nações apenas no mapa-mundi de Márcio Pochmann.”


Considerações finais 


Compreende-se que a cobertura jornalística desempenha um pilar fundamental na construção de uma opinião pública, tornando-se essencial na conscientização e mobilização da sociedade civil em temas de política externa. No caso específico aqui apresentado, a imprensa  contribuiu para democratizar as informações sobre as  pautas e decisões tomadas no G20, que, ao tocarem em temas como política econômica e mudanças climáticas, afetam, de forma direta ou indireta, a sociedade civil. 


Um jornalismo sério e comprometido deveria expor  com clareza as  políticas propostas, gerando um debate público sobre as escolhas feitas pelos líderes do G20. Ao fazer isso, a imprensa  ajudaria a tornar esses eventos mais transparentes e a responsabilizar os governantes perante suas populações. No entanto, as notícias sobre o G20 na imprensa brasileira serviram, muitas vezes, de pretexto para criticar personalidades políticas. Dois episódios recentes exemplificam bem o desvio de foco da imprensa: o xingamento que Janja Lula da Silva proferiu contra Elon Musk e as provocações do presidente argentino Javier Milei durante o evento.  Durante a cúpula do G20, em um palco junto a um público amplo, a primeira-dama fez um comentário agressivo em relação a Elon Musk,  incitando  narrativas centradas no sensacionalismo. Embora o comentário agressivo tenha sido criticado por amplos segmentos políticos, da esquerda à direita, a partir desse episódio pautas importantes do G20 foram ofuscadas, e a prioridade de muitos veículos de imprensa passou a ser a discussão sobre a pertinência ou não do gesto da mulher do presidente da República. Outro momento também ganhou relevância nas pautas jornalísticas: as provocações feitas pelo presidente argentino Javier Milei ao Brasil, especialmente em relação à política monetária e à integração regional. O desvio de foco enfraqueceu a análise crítica sobre os temas centrais do encontro, tornando o debate público mais raso e polarizado. 


A chamada grande imprensa, representada aqui pelos jornais Folha de S. Paulo, O Globo e Revista Veja, realizou uma cobertura condizente com a importância do evento, não só para o Brasil mas para o cenário internacional. Historicamente, esta imprensa sempre se posicionou favorável ao alinhamento brasileiro aos EUA, manifestando desconfianças em relação às proposições mais universalistas de política externa. No entanto, a cobertura sobre o G20 mostra que o reconhecimento da importância da China no cenário internacional se tornou imperativo. A Folha publicou um artigo de Xi Jinping  sobre as boas perspectivas para as relações entre Brasil e China.


Existe uma indisposição desses veículos com a figura de Lula e sua diplomacia presidencial, desde o inegável sucesso da política externa “ativa e altiva” de seus dois primeiros governos. Isso se evidencia em diversas avaliações realizadas pelos veículos de comunicação, que costumam criticar as falas de Lula sobre a realidade internacional e, ao mesmo tempo, atribuir eventuais sucessos da política externa à diplomacia brasileira. No entanto, a cobertura, de forma geral, reconheceu que o G20 é um dos raros espaços do multilateralismo a promover um mínimo de articulação entre países tão diversos quanto EUA e China, cujas diplomacias discutiram temas de interesse para toda a comunidade internacional. A cobertura de uma imprensa de extrema-direita, aqui focada na Revista Oeste, por outro lado, flertou, como sempre, com a desinformação, dando exemplos contundentes do complexo de vira-lata, expressão cunhada pelo escritor Nelson Rodrigues para se referir aos brasileiros que se colocam em situação de inferioridade perante o mundo. 


O G20 constitui uma oportunidade para os países não apenas discutirem problemas e definirem possíveis soluções, mas também para testar sua influência e presença no cenário global. A maneira como os países interagem no G20 pode refletir  tendências geopolíticas e econômicas mais amplas, além de auxiliar na consolidação de alianças estratégicas, pois o fórum permite que os países alinhem suas políticas em temas tão diversos quanto comércio, meio-ambiente e segurança internacional. A presidência brasileira no G20, além de mostrar ao mundo a importância das pautas sociais, se caracterizou pela aposta na sobrevivência de um combalido multilateralismo, podendo esse ser considerado um dos maiores legados da política externa do terceiro governo Lula até o presente momento.


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