“Tem que ter pólvora”: o governo Bolsonaro e as eleições dos EUA

Por Gabriel Soprijo e Tatiana Berringer

Presidente brasileiro não reconhece vitória democrata e faz insinuações belicistas que constrangem a sociedade

No dia 3 de novembro de 2020, os Estados Unidos da América realizaram eleições presidenciais entre Donald Trump (Republicano) e Joe Biden (Democrata). Trump era candidato à reeleição, mas Biden o venceu tornando-se o presidente mais votado na história dos EUA. A contagem de votos demorou e a vitória democrata só foi declarada no dia 7 de novembro. 

Até o momento, o Itamaraty ainda não se posicionou sobre as eleições, e o Estado brasileiro foi um dos poucos que não cumprimentou o presidente eleito. Em mensagem nas redes sociais, Bolsonaro, ressoando o discurso trumpista de que a eleição poderia ser fraudulenta, chegou a afirmar que “há sempre uma forte suspeita da ingerência de outras potências”. 

O fato, contudo, é que o presidente brasileiro se viu ameaçado pela eleição de Biden por temer uma possível ingerência e pressão em relação às queimadas da Amazônia. Isso porque o presidente eleito disse que se preocupava com as queimadas na região e proporia uma gestão coletiva internacional, através de um fundo de 20 bilhões de dólares para a preservação da floresta. Essa posição recebeu apoio do então embaixador dos EUA no Brasil, Nestor Forster.

No dia do pleito, o vice-presidente brasileiro e presidente do Conselho Nacional da Amazônia, Hamilton Mourão, chegou a ser questionado sobre o posicionamento de Joe Biden. Em resposta, o vice-presidente do Brasil disse que os EUA deveriam olhar para as suas próprias políticas ambientais, já que estão entre os países que mais emitem gás carbônico do mundo. Quando questionado sobre a postura de apoio de Bolsonaro ao Trump, Mourão afirmou que, “quando o presidente fala, ele fala por todos, pelo governo”, além disso mencionou que o Brasil não deve se posicionar sobre uma suposta judicialização das eleições nos EUA e que independente do resultado o Brasil irá manter boas relações com qualquer uma das partes. 

Autoproclamado presidente

No dia seguinte, 4 de novembro, Donald Trump realizou um pronunciamento de madrugada, na qual se proclamou vencedor das eleições, e disse que entraria com recurso na Suprema Corte para que a contagem dos votos feitos pelo correio fosse interrompida. Entretanto, o dia ficou marcado por uma virada de Biden nas projeções. Bolsonaro recebeu conselho de assessores que só se manifestasse após o resultado final. Mas Bolsonaro chegou a reiterar sua preferência por Trump, afirmou que tem uma “boa política”, e que espera que ele seja reeleito. Bolsonaro, chegou ainda a comentar em frente ao Palácio da Alvorada, que estava “com o coração na mão com o que tá acontecendo nos EUA” e que a “esperança é a última que morre”.

Eduardo Bolsonaro, atual presidente da Comissão de Relações Exteriores, por meio das redes sociais, questionou a legitimidade das eleições nos EUA e mencionou, sem qualquer prova, que existe uma fraude na contagem dos votos enviados pelo correio favoráveis a Biden. Ele compartilhou uma publicação de Bernardo Küster, investigado no inquérito das notícias de fake news, no qual pontuava, “Se isto não é fraude, não sei o que é”. Esse posicionamento por parte de Eduardo Bolsonaro, gerou críticas no seio do exército brasileiro. Os militares contaram à Folha de S. Paulo que esta postura, afasta a possibilidade de manter Jair Bolsonaro distante da disputa eleitoral. 

Invenção da pólvora

No dia 5 de novembro, em Alagoinhas, Jair Bolsonaro pontuou, que o “Mundo está de olho em nós, temos o que eles não têm”, em clara alusão ao posicionamento de Biden sobre a Amazônia. No dia seguinte, durante a formação de 650 policiais federais rodoviários, mudou o discurso, mencionando que “Trump não é a pessoa mais importante do mundo. A pessoa mais importante é Deus”. E, no dia 10 de novembro, Bolsonaro, ainda sem reconhecer a vitória de Biden, disse: 

“Todo mundo que tem riqueza não pode dizer que é feliz, não, tem que tomar cuidado com a riqueza, por que está cheio de malandro de olho nela. E o Brasil é um país riquíssimo. Assistimos há pouco a um grande candidato à chefia de Estado dizer que, se eu não apagar o fogo da Amazônia, levanta barreiras comerciais contra o Brasil. E como é que podemos fazer frente a tudo isso? Apenas a diplomacia não dá, não é, Ernesto? Quando acaba a saliva, tem que ter pólvora, se não não funciona”.

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