Brasil e EUA na COP 26

16 de novembro de 2021

Por Tatiana Berringer, Gabriel Soprijo, Gabrielly Almeida, Gabriela Leite, Thiago Fernandes, Fernanda Antoniazzo, Flávia Mitake
(Foto: PRE-COP26 Meeting Press Office/EPA/Observador)

O tema de meio ambiente tem sido a principal celeuma das relações bilaterais entre Brasil e EUA. Observa-se, contudo, um comportamento “dúbio” brasileiro. Enquanto o Itamaraty tenta reconstruir a imagem do Brasil, as medidas discursivas do governo vão na contramão do que tem sido feito na prática.

A Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP-26) aconteceu na Escócia, entre os dias 31 de outubro e 12 de novembro, e teve como principal objetivo debater questões sobre as mudanças climáticas. Ao longo da preparação e da realização do encontro foi possível observar uma série de diferenças entre os Estados brasileiros e os Estados Unidos, haja vista que o tema de meio ambiente tem sido a principal celeuma das relações bilaterais desde 2020. 

Joe Biden queria demonstrar na COP que os EUA voltaram na luta contra o aquecimento global, tanto que Biden partiu para  Roma semanas antes em uma reunião do G20, na intenção de salvar o planeta da devastação causada pela elevação das temperaturas”. O presidente tinha como meta exibir uma legislação para cumprir a promessa de reduzir as emissões de efeito estufa entre 50% até 2030, além de um plano que inclui centenas de bilhões de dólares em energia limpa. O presidente dos EUA pretendia enviar 13 membros do alto escalão para a conferência, incluindo importantes nomes do governo, como Gina McCarthy, responsável por ficar no começo da conferência e destacar o que os EUA têm feito para reduzir em relação ao lançamento de gases estufas. John Kerry participou de todo o encontro. Kerry tem tido uma agenda diplomática na área de “clima” ao longo de todo o ano de 2021.

O Brasil, durante a elaboração do sexto relatório de avaliação do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas), documento utilizado como referência na COP 26, se opôs às recomendações para reduzir o consumo de carne no mundo, rebateu críticas em relação à política ambiental feita (1) por Bolsonaro e defendeu o consumo de carne no mundo. Além disso, o  ex-ministro do meio ambiente Ricardo Salles criticou a Conferência COP 26 afirmando que “querem convencer que peido do boi é culpado do efeito estufa”. O Brasil, por sua vez, levou a maior delegação do evento, 479 membros, nenhum deles membro de ONG, e 57 dos nomes não pertencem a nenhum governo estadual, municipal ou federal, na verdade são empresários e representantes ligados à indústria e ao agronegócio. O presidente Jair Bolsonaro afirmou que não iria, e que o atual ministro do meio ambiente Joaquim Leite o representaria. Segundo o vice-presidente da república Hamilton Mourão, o não comparecimento ao evento do mandatário se justifica, pois iriam jogar “pedras” nele. Em relação à falta de Bolsonaro, Kristina Rosales, porta-voz do Departamento de Estado dos Estados Unidos, foi taxativa em tom de cobrança: “O mais importante para nós é o que vai ser colocado na mesa como objetivo sério e como é que isso vai ser cumprido.”  

Todavia, é possível observar uma mudança na postura do Brasil. Ao longo da  reunião, em 31 de outubro, Joaquim Lei, Ministro do Meio Ambiente, anunciou o objetivo de reduzir os gases do efeito estufa até 2030. Um dia depois, John Kerry, elogiou a postura brasileira e disse estar “ansioso” para trabalhar junto com o país nessa missão. Além disso, foi possível observar um posicionamento de Kerry em relação ao Brasil, pontuando que o novo ministro do meio ambiente, está sendo bem atencioso, apesar de  observar o tom de cobrança de sua fala: “Agora a expectativa é de implementação. É preciso fazer o que se diz que vai fazer, e vamos ajudar o Brasil nisso”. Kerry, em relação a conferência no geral, declarou que as metas são possíveis de serem cumpridas, todavia será necessário o empenho dos países após o encontro.

Outro possível tom de cobrança partiu do diplomata dos Estados Unidos, Douglas Koneff, que deu uma declaração na expectativa de esperar que o Brasil ajude a encontrar “consensos” sobre o mercado de carbono durante a COP 26, em relação a regulamentação do artigo 6 do Acordo de Paris, assinado em 2015. Os governos na atual cúpula querem estabelecer que países emissores de gases do efeito estufa consigam comprar crédito de carbono. Em relação a tal medida, é possível observar que foi atendida, já que o “Brasil mudou de postura e o acordo sobre o artigo 6 ficou mais próximo.

Mesmo não comparecendo pessoalmente ao evento, o presidente Jair Bolsonaro “apareceu” em um vídeo de 30 segundos durante o Evento da Cúpula dos Líderes Mundiais sobre Florestas e Uso do Solo, porém essa ação só aconteceu por conta da pressão que o país sofreu por parte do Reino Unido para assinar a Declaração de Florestas. O Itamaraty aceitou participar visando controlar os danos. 

Durante a COP 26, destaca-se um feito: Obama, ex-presidente dos EUA, pediu que o Brasil liderasse o debate sobre o clima, e pontuou que nenhum país pode ficar “à margem”. Além disso, criticou o fato dos presidentes da China e Rússia não comparecerem ao evento, já que são grandes emissores do mundo de poluentes, e criticou Donald Trump por ter retirado os EUA  do acordo de Paris e deixado a questão ambiental “parada”. 

Em síntese, é possível dizer, em acordo com Izabella Teixeira, ex-ministra do Meio Ambiente, que em relação à postura do Brasil na COP 26, “o Itamaraty tenta ‘reconstruir imagem do Brasil’, mas o próprio governo age contra”. Fica evidente, portanto, um comportamento ‘dúbio’ no evento, uma vez que as medidas discursivas do governo vão na contramão do que tem sido feito na prática.

NOTAS:

1 – Documento que seria utilizado como referência na COP 26.

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