Como os EUA estão vendo as eleições no Brasil

23 de agosto de 2022

 

Por Tatiana Berringer, Marina Tedesco Alvarenga, Guilherme Masson (Foto: Senado/EUA)

 

Reunião de Bolsonaro com embaixadores motivou reação da embaixada americana e posicionamento firme do senador Bernie Sanders contra eventual tentativa de golpe

 

Antes mesmo do início oficial das campanhas eleitorais,  a ameaça de golpe de Estado com a possibilidade do atual presidente Jair Bolsonaro não reconhecer o resultado das eleições, seguindo os passos de Donald Trump, tornou-se um debate público no Brasil e nos Estados Unidos. Esse foi o tema da reunião do presidente com embaixadores em Brasília, e gerou reações do encarregado de negócios da embaixada americana no Brasil. O senador Bernie Sanders também fez declarações contrárias à postura de Jair Bolsonaro. 

 

Na reunião de julho de Jair Bolsonaro (PL) com embaixadores de cerca de 40 países no Palácio da Alvorada, o presidente levantou dúvidas e questionamentos sobre a segurança do sistema eleitoral brasileiro, especialmente, das urnas eletrônicas. Bolsonaro repetiu, por diversas vezes, sem apresentar provas, frases já desmentidas sobre a fragilidade do método de eleição usado no país há décadas. Ele criticou o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e os ministros Edson Fachin e Luís Roberto Barroso. Afirmou que as eleições deste ano devem ser transparentes e que o governo iria se empenhar em trazer uma solução para isso. 

 

Em suas palavras: “Nós queremos, obviamente, estamos lutando para apresentar uma saída para isso tudo. Nós queremos confiança e transparência no sistema eleitoral brasileiro. […] Nós queremos corrigir falhas. Queremos transparência. Nós queremos democracia de verdade. […] Eleições são questões de segurança nacional. Nós não queremos instabilidade no Brasil”

 

O presidente também reiterou o convite feito às Forças Armadas por parte da Justiça Eleitoral para compor a Comissão de Transparência das Eleições. Segundo ele, as sugestões feitas “podem ser cumpridas até 2 de outubro”, pois elas “estancam a manipulação de números”. 

 

No dia seguinte, após a participação na reunião do encarregado de negócios da embaixada estadunidense, Douglas Koneff, a embaixada dos Estados Unidos no Brasil lançou uma nota à imprensa reafirmando sua confiabilidade no sistema eleitoral brasileiro. A nota na íntegra diz o seguinte: “Como já declaramos anteriormente, as eleições no Brasil são para os brasileiros decidirem. Os Estados Unidos confiam na força das instituições democráticas brasileiras. O país tem um forte histórico de eleições livres e justas, com transparência e altos níveis de participação dos eleitores. As eleições brasileiras, conduzidas e testadas ao longo do tempo pelo sistema eleitoral e instituições democráticas, servem como modelo para as nações do hemisfério e do mundo. Estamos confiantes de que as eleições brasileiras de 2022 vão refletir a vontade do eleitorado. Os cidadãos e as instituições brasileiras continuam a demonstrar seu profundo compromisso com a democracia. À medida que os brasileiros confiam em seu sistema eleitoral, o Brasil mostrará ao mundo, mais uma vez, a força duradoura de sua democracia.”

 

O senador do estado de Vermont, Bernie Sanders,por seu turno, vem demonstrando bastante preocupação com o rumo da democracia no Brasil. Sanders, que já vocalizou em diversas instâncias não gostar do que Bolsonaro, mostrou-se decidido a resistir contra qualquer tentativa de golpe que viole as bases democráticas brasileiras. Após declarações polêmicas de Jair Bolsonaro, nas quais o presidente insiste que “apenas Deus” vai removê-lo do cargo, e que ele, caso fosse aplicar um golpe de Estado não diria nada, Bernie Sanders afirma que “é dever dos Estados Unidos estar oficialmente do lado dos eleitores, independentemente de quem vença as eleições”. Sanders continua defendendo a democracia brasileira ao afirmar que seria inaceitável que os Estados Unidos reconhecessem e trabalhassem com um governo que perdeu as eleições. Para o senador, isso seria um desastre tanto para o povo brasileiro quanto para a imagem da força democrática perante o mundo

 

Com a intenção de reforçar que os Estados Unidos defendem eleições presidenciais justas e livres no Brasil, Bernie Sanders pretende apresentar um projeto de resolução (Sense of the Senate) para que o Senado dos Estados Unidos se manifeste sobre o assunto. A resolução, além de apoiar o candidato eleito legalmente, pretende também que os Estados Unidos encerrem relações com o Brasil caso o país seja governado por um um regime não democraticamente eleito. “Se Jair Bolsonaro, Luiz Inácio Lula da Silva ou qualquer outro ganhar a presidência legalmente”, contou o senador, “não há necessidade de uma mudança na relação Estados Unidos-Brasil – afinal, seria a vontade do povo”. Contudo, a resolução proposta por Sanders não culmina em práticas obrigatórias, funcionando muito mais como um posicionamento da casa legislativa dos Estados Unidos, do que como uma moção prática. Bernie Sanders entende este Sense of Senate como um começo, para que o povo brasileiro saiba que os Estados Unidos estão ao seu lado.

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