02 de novembro de 2022
Por Gabriel Soprijo e Fernanda Antoniazzo (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)
O reconhecimento da vitória de Lula ocorreu em tempo recorde, junto a uma série de líderes mundiais que se apressaram para destacar a legitimidade do pleito
O segundo turno das eleições determinou que Lula, candidato do Partido dos Trabalhadores (PT), será o novo presidente do Brasil, com 50,90% dos votos. Nos Estados Unidos, no entanto, Bolsonaro foi vitorioso com 65,48% dos votos, ganhando nos mesmos estados que no primeiro turno, além de Washington DC e Los Angeles – ambos com uma diferença muito pequena.
Pouco mais de 30 minutos da oficialização do resultado, a Casa Branca divulgou comunicado reconhecendo a vitória do agora eleito presidente Lula, parabenizando o petista e afirmando que as eleições foram justas. O presidente americano Joe Biden também fez um telefonema a Lula, além de postar em suas redes sociais o seguinte pronunciamento: “Ofereço meus parabéns a Luiz Inácio Lula da Silva em sua eleição para ser o próximo presidente do Brasil, seguindo eleições justas, livres e confiáveis. Estou ansioso para trabalharmos juntos em prol de continuar a cooperação entre nossos países nos meses e anos seguintes”.
A vitória com folga de Jair Bolsonaro nos Estados Unidos não foi uma surpresa. O alinhamento do candidato com o ex-presidente Donald Trump, do Partido Republicano, desde as eleições americanas de 2016, lhe trouxe apoio e parcerias com membros da própria equipe de Trump, empresários e políticos conservadores, como Mike Lee, senador republicano, e Jason Miller, ex-assessor do ex-presidente norte-americano.
Além disso, os residentes brasileiros nos Estados Unidos já haviam demonstrado apoio ao atual presidente. Em setembro de 2021, em viagem para participar de um evento das Nações Unidas, quando ainda se exigia comprovante de vacinação em restaurantes, a churrascaria brasileira Fogo de Chão, em Nova York, abrigou Bolsonaro, que se recusava a afirmar que havia sido vacinado. Neste ano, o candidato abandonou o mesmo evento da ONU após discursar e se reuniu com apoiadores no mesmo restaurante. A viagem também contou com protestos contra o presidente, como projeções no prédio das Nações Unidas com dizeres de rejeição ao candidato.
Como Bolsonaro ficou mundialmente conhecido por atacar a legitimidade do processo eleitoral, uma série de líderes mundiais correram para parabenizar Lula pela vitória nas eleições, muitos em suas falas fizeram questão de destacar a legitimidade do pleito, como Josep Borrell, diplomata-chefe da União Europeia, “A União Europeia elogia o Tribunal Eleitoral, em particular, pela forma eficaz e transparente com que conduziu o seu mandato constitucional em todas as fases do processo eleitoral, demonstrando mais uma vez a força das instituições brasileiras e da sua democracia”. Membros de delegações e chefes de Estado da Alemanha, Reino Unido, Portugal, Austrália e Canadá em seus pronunciamentos destacaram principalmente que possuem interesse em trabalhar na proteção ambiental, leia-se Amazônia, que bateu recorde de destruição no governo Bolsonaro.
A imprensa internacional também manteve uma postura amigável com a eleição de Lula. The Washington Post declarou: “O ex-presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, um ícone da esquerda latino-americana, derrotou o presidente Jair Bolsonaro no domingo para conquistar um terceiro mandato liderando o maior país da região, disse o Tribunal Superior Eleitoral, coroando um notável retorno político menos de três anos depois ele saiu de uma cela de prisão”. The New York Times pontuou: “Os resultados no domingo deixaram claro que dezenas de milhões de brasileiros se cansaram de seu estilo polarizante e do tumulto frequente de seu governo”. Para o jornal britânico The Guardian, foi uma virada “espantosa” e o mais importante resultado em décadas para o Brasil. A Fox News publicou uma matéria com o seguinte questionamento: “Lula vence a presidência enquanto a nação dá uma guinada à esquerda – Bolsonaro aceitará os resultados?”
Bolsonaro foi o presidente que mais demorou para se pronunciar após uma derrota presidencial. Após 45 horas de oficializada a sua derrota, Bolsonaro, agradeceu os votos que recebeu, não parabenizou o presidente Lula pela vitória, defendeu que manifestações pacíficas são bem vindas e que as suas ações vão estar dentro dos limites da constituição. Ele destacou ainda que o seu governo superou a pandemia e as consequências de uma guerra. O pronunciamento foi curto e durou cerca de dois minutos.
Ainda no primeiro turno, Bernie Sanders, político democrata dos EUA, conseguiu, por meio de tratativas no Senado, aprovar uma resolução em defesa da democracia no Brasil. A iniciativa foi articulada por representantes da sociedade civil brasileira nos EUA, e, especialmente, pelo Washington Brazil Office. A resolução apontou o reconhecimento imediato dos EUA sobre os resultados das eleições no Brasil e ruptura das relações dos EUA com o Estado brasileiro em caso de golpe.
A resolução é considerada “não-vinculante”, ou seja, não implica tomar alguma medida obrigatória, mas uma sinalização importante do legislativo e do executivo dos EUA. O documento ainda aponta que os dois Estados teriam o compromisso compartilhado de proteção da Amazônia. Vale destacar que esse tema já foi abordado por Joe Biden e Jair Bolsonaro, que ameaçou o uso de armas caso houvesse intervenção dos EUA na Amazônia. Além disso, reitera-se os problemas internos que o Brasil vem enfrentando ligados ao aumento da violência e desrespeito aos direitos humanos.
Durante o primeiro turno das eleições, o atual presidente Jair Bolsonaro ganhou em seis dos dez estados com local de votação. Em Miami (FL), o maior colégio eleitoral brasileiro nos Estados Unidos, o atual presidente teve 74,26% dos votos válidos, enquanto o candidato petista ficou com 16,20%. Foi ainda registrado um “mar de pessoas vestindo verde e amarelo”, com filas de 4 horas na cidade bolsonarista. Em 2018, o candidato também ganhou o primeiro turno na Flórida com 80%, e levou a vitória no segundo turno com 91%. Bolsonaro ainda ficou na frente em Atlanta (GA), Boston (MA), Hartford (CT), Houston (TX) e Nova York (NY). Não obstante, grupos de eleitores acionaram o TSE, no último dia 20, para denunciar irregularidades ocorridas durante o primeiro turno nos EUA. Entre as denúncias estavam atos de violência verbal e física, ameaças, transporte irregular de eleitores e a presença de caixas de som nos colégios eleitorais, todos realizados por parte de bolsonaristas.