Equador: centroesquerda chega na frente em eleições violentas

22 de agosto de 2023

 

Por Ana Claudia Paes, Bruno Fabricio Alcebino da Silva, Caio Vitor Spaulonci, Felipe Firmino Rocha, Gabriel de Mello Rodrigues, Giovanna Furquim Moreschi e Juliana Valente Marques (Imagem: Assembleia Nacional do Equador)

 

As eleições presidenciais no Equador se definiram no primeiro turno do último domingo (20) como embate entre esquerda e direita. De um lado está a advogada Luisa González, da Revolução Cidadã do ex-presidente Rafael Correa, e de outro perfila-se Daniel Noboa, filho de Álvaro Noboa, o rei da banana, homem mais rico do país e que por cinco vezes tentou chegar à presidência.  Os percentuais de votação mostram González com 33% e Noboa com 24%. 

 

Noboa foi parlamentar na Assembleia Nacional de 2021 até junho último e é tido como um “outsider” da política. Seu desponte para o 2º turno representa uma surpresa, já que as pesquisas o colocavam nas últimas posições com menos de 3% das intenções de voto

 

Essa virada política vem após uma escalada de violência que abalou o país nos dias que antecederam a votação. Nesse cenário eleitoral, é importante lembrar o trágico assassinato de Fernando Villavicencio, candidato à presidência, ocorrido no dia 9 de agosto. Sua morte lançou uma sombra sobre as eleições e aumentou as tensões políticas. O jornalista Christian Zurita, que substituiu Villavicencio na lista de candidatos, alcançou 16,3% dos votos. Logo em seguida está o direitista Jan Topic com 14,6%, enquanto Otto Sonnenholzner, do centro, obteve 6,9%, e o líder indígena Yaku Pérez ficou com 3,7%.

 

A violência política tem sido uma característica preocupante dessa eleição. Além do assassinato de Villavicencio, outros incidentes ocorreram, incluindo tiros contra o carro da candidata Estefany Puente e o assassinato de Pedro Briones, outra liderança política. Esses eventos trágicos destacaram a crescente insegurança e tensão no país.

 

Luisa González, diante desses acontecimentos, lamentou a onda de violência e apontou para o cenário preocupante em que o Equador se encontra. Ela criticou o atual presidente Guillermo Lasso, acusando-o de conduzir um governo inepto, deixando o país vulnerável à violência e ao domínio das máfias. A taxa de homicídios no Equador tem aumentado significativamente, atingindo um pico de 40 mortes por 100 mil habitantes em 2023, o que levou González a descrever o momento como a “época mais sangrenta” da história equatoriana.

 

A Assembleia Nacional

 

A votação ocorrida no domingo também incluiu a escolha dos 137 membros da Assembleia Nacional. O movimento Revolução Cidadã se manteve com cerca de um terço das cadeiras, liderando os votos. Em seguida a aliança Construye (que inclui o partido de Fernando Villavicencio) obteve cerca de 20%. O Partido Social Cristiano aparece com cerca de 10%, na média da eleição passada.

 

Dentre as principais mudanças de 2021 para 2023 estão a ausência da Izquierda Democrática, que possuía 18 cadeiras em 2021, e a diminuição da representação do Pachakutik, de 27 cadeiras em 2021 para 4 em 2023. Por sua vez, o Movimiento Criando Oportunidades, de Guillermo Lasso, possuía 12 cadeiras em 2021, mas decidiu não encaminhar candidatos para esta eleição. Por fim, o Movimento Ação Democrática Nacional, partido de Daniel Noboa e novo na disputa, conseguiu cerca de 9%.  

 

Vale ressaltar que as eleições foram antecipadas devido à ativação da cláusula constitucional de “morte cruzada” pelo atual presidente Guillermo Lasso. Essa cláusula permitiu a dissolução da Assembleia Nacional e a convocação de eleições antecipadas. 

 

>> Veja mais sobre a cláusula da morte cruzada

 

Sobre a escolha presidencial, e diante desse cenário, o candidato eleito neste pleito cumprirá o restante do mandato de Lasso, até maio de 2025, podendo buscar a reeleição, o que acrescenta complexidade e significado ao resultado dessa disputa. O segundo turno entre Luisa González e Daniel Noboa que será realizado no dia 15 de outubro de 2023 traz consigo a esperança e as preocupações de um país que busca um caminho democrático em meio a desafios e incertezas.

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