Amazônia: soberania e desmatamento ou tutela dos EUA?

Por Ana Teixeira, Gabriel Soprijo, José Luís de Freitas e Tatiana Berringer

A política ambiental brasileira integra a disputa eleitoral dos Estados Unidos e poderá se somar às pressões da União Europeia que hoje incidem sobre a ratificação do acordo da região com o Mercosul

Jair Bolsonaro (sem partido), Ricardo Salles (ex-NOVO) e até mesmo o vice-presidente Hamilton Mourão (PRTB) têm mantido uma conduta contraditória em relação à Amazônia. Por vezes adotam uma retórica de defesa da manutenção da soberania, e por outras defendem o avanço do desmatamento e das áreas cultivadas para plantio de soja ou criação de gado. Isso parece ter encontrado um espaço nas disputas eleitorais dos Estados Unidos. 

Desde meados de agosto último, a percepção internacional é que a Amazônia foi tutelada pelo candidato democrata Joe Biden que já declarou “[…]se o Brasil não for capaz de proteger a floresta amazônica”, ele tomará medidas necessárias junto à comunidade internacional, caso seja eleito para o comando da Casa Branca. 

Monitoramento por satélite

Antes, a constante vigilância por meio de satélites, sobretudo americanos, servia para monitorar e estudar a variação climática e auxiliar as equipes em terra no combate aos incêndios de causas naturais e/ou criminosas. Agora, a ideia de que o território é um patrimônio da humanidade parece ter retornado à cena política. Joe Biden disse em entrevista para a Americas Quarterly “[…] que os incêndios que atingiram a Amazônia no verão passado foram devastadores e provocaram uma ação global para frear a destruição e ajudar no reflorestamento, antes que seja tarde demais. O presidente Bolsonaro deve saber que, se o Brasil falhar em ser o guardião responsável da floresta amazônica, então meu governo reunirá o mundo para garantir que o meio ambiente fique protegido”. 


Em março, durante um debate do Partido Democrata, quando questionado sobre o que faria para colocar em prática seu plano de US$1,7 trilhão contra o aquecimento global, Biden mencionou especificamente a questão do desmatamento em território brasileiro em sua resposta: “Eu estaria agora organizando o hemisfério (ocidental) e o mundo para fornecer US$ 20 bilhões para o Brasil não queimar mais a Amazônia, para que pudessem manter as florestas”.

A senadora da Califórnia e agora escolhida vice na chapa democrata, Kamala Harris, complementou: “Enquanto a Amazônia é incendiada, o presidente brasileiro trumpista, que deixa madeireiros e garimpeiros destruírem a terra, não toma nenhuma providência. Trump não deve firmar acordos comerciais com o Brasil até Bolsonaro reverter essa política catastrófica e lidar com os incêndios. Precisamos da liderança americana para salvar nosso planeta”, concluiu.

A carta assinada por 24 deputados democratas da Comissão de Orçamento e Assuntos Tributários destinada ao representante comercial dos EUA Robert Lighthizer, no começo de junho, segue a mesma linha dos candidatos à Presidência e Vice-presidência: “Nós nos opomos fortemente a buscar qualquer tipo de acordo comercial com o governo Bolsonaro, no Brasil. O aprimoramento do relacionamento econômico entre os Estados Unidos e o Brasil, neste momento, iria minar os esforços dos defensores dos direitos humanos, trabalhistas e ambientais brasileiros para promover o Estado de Direito e proteger e preservar comunidades marginalizadas”. 

A política ambiental brasileira parece ocupar um lugar na disputa eleitoral dos Estados Unidos e poderá se somar às pressões da União Europeia que hoje incidem sobre a ratificação do acordo Mercosul-União Europeia. Será importante analisar o impacto e o desdobramento disso lá e cá. 

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