14 de junho de 2021
Por Tatiana Berringer, Gabriel Soprijo e Fernanda Antoniazzo
A pressão internacional aumenta em relação a Biden, uma vez que a China, seu principal adversário, já realizou a doação de 200 milhões de doses ao mundo, enquanto os EUA, até o final de maio, apenas quatro milhões.
A pandemia da Covid tem apresentado uma corrida pela imunização. Isso gerou uma ação internacional de doação de vacinas dos principais países produtores – EUA, China e Europa – a diplomacia das vacinas. Como também tem gerado o turismo da imunização, viajantes procuram brechas e oportunidades de garantir a vacinação em outros países.
Com a troca de presidência dos EUA foi possível observar uma mudança de postura em relação às medidas de combate ao COVID-19. Biden tem uma política cada vez mais assertiva com objetivos de mitificar os efeitos da atual pandemia. Uma de suas políticas foi a garantia de um grande contingente de vacinas para sua população, até mesmo em excesso. Devido a isso, alguns países começaram a pedir doações, devido ao excedente. O presidente Lula, em entrevista à CNN, pediu que os EUA ajudassem o Brasil doando vacinas, criticou Bolsonaro e pediu que Biden convocasse a reunião do G20, para abordar as questões sobre a vacinação da COVID-19.
Os EUA chegaram a admitir discutir essas questões, mas afirmaram que a prioridade ainda ia ser a população estadunidense. Jen Psaki, porta-voz da Casa Branca na época afirmou que estavam “engajados” com outros países para essa discussão, todavia ela disse que ainda não tinha uma previsão de data. Os EUA tomaram a decisão de realizar a doação de 60 milhões de doses de vacinas da Astrazeneca, uma vez que eles já estavam usando três modelos para vacinar a população interna: Janssen, da Johnson & Johnson, Moderna e Pfizer, contudo ainda não havia sido decidido quais países seriam beneficiados com essa ação.
Um consórcio de prefeitos chegou a pedir aos EUA doação de 6 milhões de doses de vacinas em caráter de urgência ao embaixador estadunidense no Brasil, o objetivo era fazer com que os municípios conseguissem vacinar os profissionais da educação. O argumento utilizado, foi que as novas variantes brasileiras são potencialmente mais graves e o fato da AstraZeneca já ter sido aprovado pela agência regulatória brasileira. Além disso, no texto chegam a criticar o governo federal pela falta de coordenação do Plano Nacional. Na Organização Mundial da Saúde (OMS), no dia 30 de Abril, Queiroga chegou a pedir doação de vacinas a países que possuem doses extras.
Joe Biden anunciou a doação de 80 milhões de vacinas para o exterior, além das 60 milhões de doses anunciadas da Astrazeneca, foi acrescentado 20 milhões de imunizantes da Pfizer, Moderna e Johnson & Johnson. Biden pontuou que os EUA trabalharão com consórcio da Covax (OMS) e outros parceiros para fazer essa distribuição igualitária ao redor do mundo, declarou que nas próximas semanas irá conversar com outras democracias para ampliar os esforços na luta contra a pandemia, espera mostrar os avanços na cúpula do G7 em junho e que planeja no futuro conseguir doar mais doses.
Às vésperas da decisão dos EUA sobre qual país iria receber a doação das doses, acadêmicos brasileiros, entre eles alguns radicados nos Estados Unidos, lançaram uma carta aberta à Joe Biden pedindo que o Brasil seja contemplado. O documento dava destaque a situação brasileira de mutação do vírus e que ajudaria a retardar a disseminação. Até a Sociedade Civil entrou em ação, a Amcham Brasil, maior Câmara de Comércio Americana, que está localizada fora dos EUA, chegou a enviar uma carta para o Congressista Gregory Meeks, presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara de Deputados e o embaixador Todd C. Chapman afirmou que o número de doses que o Brasil tem é insuficiente. Além disso, CUT, Força Sindical, UGT, CTB, NCST Nova Central e CSB fizeram um apelo a Biden em abril solicitando vacinas, contando com apoio de sindicatos americanos.
A pressão internacional só aumenta em relação a Biden, uma vez que a China, seu principal adversário, já realizou a doação de 200 milhões de doses ao mundo, enquanto os EUA até 24/05 apenas quatro milhões. Um diplomata americano, afirmou em sigilo à BBC Brasil, que o governo americano utilizou dois critérios para a escolha dos países que iriam receber a doação das vacinas: questão epidemiológica e política. Quanto ao problema epidemiológico, deve ser levado em conta o surgimento de variantes, mais letais e contagiosas. Em relação à questão política, Joe Biden deve ocupar o espaço internacional como protagonista na doação de vacinas sem descuidar da sua imagem interna sobre os seus atos. Os EUA chegaram a se pronunciar que a América Latina teria prioridade na doação de vacinas. Mas, o atual Ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, em audiência na Câmara dos Deputados, declarou que “os EUA não irão doar vacinas ao Brasil”, o esforço brasileiro nesse cenário é antecipar a entrega das vacinas compradas dos EUA como a Pfizer e a Johnson & Johnson. Do ponto de vista do ministro, a iniciativa de Biden é positiva, e que na situação do Brasil “sendo pragmático”, os EUA não vão doar, uma vez que aconteceu a compra de doses oriundas do mercado estadunidense.
Todavia, mesmo com a afirmação de Queiroga, foi divulgado que os EUA incluíram o Brasil na lista dos países que vão receber doação de vacina. O primeiro lote, que contém 25 milhões de doses, vai acontecer a repartição entre aliados regionais e membros da aliança COVAX. Entretanto, mesmo com essa confirmação não se tem um número exato de quantas doses o Brasil irá receber, uma vez que o país vai ter que dividir 6 milhões, com ao menos 14 países da América Latina: Argentina, Brasil, Colômbia, Peru, Costa Rica, Paraguai, Equador, Guatemala, Bolívia, Honduras, El Salvador, Haiti, Panamá, República Dominicana e Comunidade do Caribe. Meses atrás Biden havia prometido doar 80 milhões de doses, o primeiro lote de 25 milhões será entregue até final de junho, o destino das outras 55 milhões de doses ainda não foi anunciado.
Além desse lote de doações, o governo dos EUA anunciou mais de 500 milhões de doses da vacina Pfizer para 92 países que possuem baixa e média renda. De acordo com a Casa Branca o Brasil não estaria nessa lista, as vacinas estariam sendo destinadas à países como Afeganistão, Fiji e Angola, essa seleção aconteceu por meio da OMS e Gavi Covax. A expectativa de Washington é que essas vacinas sejam enviadas até agosto de 2021. Biden comentou que essa medida está sendo feita para salvar vidas e acabar com a pandemia, sem esperar nenhum favor em troca. Na semana passada, foi notificado que o Brasil e América Latina receberão 6 milhões de doses da Covax Facility, esse imunizante necessita de duas doses, em relação à América latina e Caribe chegará o suficiente para imunizar 3 milhões de pessoas, numa região que possui 438 milhões de habitantes.
Um novo fenômeno vem sendo observado durante a pandemia do covid-19: o “turismo da vacina”. Cada vez mais, brasileiros estão indo em busca de pacotes de viagem para os Estados Unidos, onde a vacinação já está em um estágio avançado, em contrapartida com o atraso do governo brasileiro. Diversas agências de turismo já implementaram pacotes que podem custar de 4999 reais a 50 mil. Para chegar ao país, os brasileiros devem fazer escala em um dos países em que os viajantes podem entrar em território norte-americano, como o México, por exemplo, e realizar uma quarentena de 15 dias antes de prosseguir a viagem ao destino desejado.
Algumas cidades e estados norte-americanos, como a cidade de Nova York, a Flórida e o Alasca, já permitiram ou flexibilizaram a vacinação de turistas em seu território. O prefeito nova iorquino, Bill de Blasio, tem como plano aumentar o turismo na cidade, que foi severamente afetado pela pandemia e pelo isolamento social, com a permissão da vacinação de turistas em pontos turísticos, enquanto na Flórida a flexibilização se deu pelo fato de que existem muitos residentes temporários, sendo impossível limitar a campanha a pessoas que não moram lá, abrindo uma brecha para que turistas recebam a vacina sem a necessidade de comprovar residência.