A relação Brasil-EUA nos primeiros 100 dias do governo Lula 3

31 de março de 2023

 

Por Ana Carolina Carvalho de Oliveira, Camila Micheletti Flores, Fernanda Messias Moretti, Gabriela Fernandes Nabuco de Araujo, Marina Tedesco Alvarenga, Patricia Lima Rego e Tatiana Berringer (Imagem: Presidência da República)

 

O Brasil reatou laços com os EUA com a nova diplomacia presidencial, após o turbulento governo Bolsonaro, a visita de Lula a Washington foi um marco de reaproximação entre as nações

 

Logo após a oficialização do resultado das eleições brasileiras de 2022, a Casa Branca divulgou uma nota reconhecendo a vitória do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva. Reafirmaram que o processo foi transparente e a eleição foi justa. É neste tom que iniciam-se os primeiros 90 dias de governo Lula e, com eles, uma tentativa de resgatar o protagonismo do Estado brasileiro no cenário internacional e o restabelecimento de boas relações bilaterais entre Estados Unidos e Brasil, após um período conturbado devido à política ambiental e a ameaça à democracia que Bolsonaro começou a apresentar. Esses elementos levaram Joe Biden, presidente dos EUA, o Partido Democrata e o Congresso a se mobilizarem para a defesa da democracia e a pressão contra o desmatamento da Amazônia.   

 

Nesse cenário, nos primeiros 100 dias da política externa brasileira, o Brasil recebeu a nova embaixadora dos EUA, Elizabeth Bagley, o presidente do Brasil visitou os Estados Unidos. Esses fatos demonstram a reaproximação e novos laços e compromissos, especialmente no que tange à política de sustentabilidade, aos direitos humanos, à política regional e ao conflito entre Rússia e Ucrânia. Este último apareceu como o tema mais controverso nesse novo momento da política externa brasileira. 

 

A cerimônia de posse do presidente Lula foi marcada pela ausência do ex-mandatário para a entrega da faixa presidencial. Bolsonaro viajou aos Estados Unidos dias antes, acompanhado de familiares e alguns membros da sua equipe. Com um ato marcado pela subida de Lula na rampa do Palácio, acompanhado pelo cacique Raoni, uma das principais lideranças indígenas do país, Aline Sousa, trabalhadora ligada ao movimento de catadores, e Ivan Baron, portadores de deficiência, o presidente eleito tomou posse e deu início ao seu terceiro mandato, afirmando que iria “[…]fazer novamente um Brasil de todos e para todos (Lula, 2023)”. Janja, companheira de Lula, que também estava presente na posse, fez alguns pronunciamentos, que reafirmaram o almejo de Lula e seus representantes de reconstruírem essa nação, incluindo toda diversidade brasileira nessa conjuntura. Estavam presentes na cerimônia de posse, representantes de 54 Estados, incluindo os EUA.

 

No dia 9 de janeiro, a nova embaixadora dos EUA no Brasil, que já havia sido indicada pela Casa Branca e aprovada pelo Senado americano em 2022, assumiu o cargo deixado por Todd Chapman em 2021, que era um porta-voz do trumpismo na região. Elizabeth Frawley Bagley, é advogada, especializada em direito comercial internacional, a embaixadora tem mais de quatro décadas de experiência no meio diplomático e já atuou como assessora de ex-secretários de Estado dos EUA, e foi embaixadora em Portugal no governo de Bill Clinton. É professora adjunta de direito, na Georgetown University e trabalhou como produtora associada da ABC News em Paris, França, e Washington, DC.

 

A indicação de Bagley demonstra a importância que o presidente americano, Joe Biden, confere às relações entre Brasil e Estados Unidos, já que ela é uma figura experiente, historicamente alinhada e importante doadora do Partido Democrata, inspirando confiança. Elementos importantes para o momento de transição política no país. Ademais, anunciou-se a prioridade da agenda do governo Biden para o Brasil: meio ambiente, direitos humanos e crescimento econômico. Durante a posse da embaixadora, a vice-presidente, Kamala Harris, condenou os atos violentos do dia 8 de janeiro no Brasil, e expressou confiança em Bagley para representar os EUA e trabalhar em conjunto com o presidente Lula. 

 

Assim que chegou ao Brasil, no dia 1º de fevereiro, a embaixadora afirmou: “O Brasil não tem melhor parceiro do que os Estados Unidos”. Em seguida, durante a crise gerada pelo atracamento de embarcações iranianas em portos brasileiros, Bagley demonstrou preocupação e se disse contrária à autorização. 

 

No dia 09 de fevereiro Lula, acompanhado de ministros e assessores, fez a sua primeira viagem oficial aos EUA, sob grande expectativa e tensão, já que havia se passado apenas um mês dos atos violentos do 08 de janeiro em Brasília que me se assemelha à invasão do Capitólio, quando Biden tomou posse. Ambos fizeram referências aos respectivos presidentes antecessores e demonstraram preocupação com a radicalização da extrema direita nos seus países. O encontro tratou também dos seguintes temas: integração das cadeias produtivas, mudanças climáticas e a Guerra na Ucrânia.

No que tange às mudanças climáticas, além das manifestações de preocupação acerca dos desmatamentos e de atividades ilegais na Amazônia, os EUA indicaram interesse em fazer parte do Fundo Amazônia. O presidente brasileiro e sua delegação demonstraram entusiasmo com esta possibilidade, mas explicitaram que a necessidade de manutenção da soberania brasileira sob o território amazônico. Nesse sentido, sugeriram a criação de um para governança global na questão climática. 

 

Talvez a questão mais controversa do resultado da reaproximação Brasil-EUA tenha sido a posição sobre a guerra na Ucrânia, que completou um ano e foi tema da Sessão Extraordinária da Assembleia-Geral da ONU no dia 28 de fevereiro de 2023. O Estado brasileiro, talvez pressionado pelos EUA, votou a favor da retirada imediata de todas as tropas militares russas do território ucraniano dentro das fronteiras internacionalmente reconhecidas, reiterando a integridade territorial e, inclusive, redigiu um trecho da proposta pleiteando a cessação de hostilidades. O Brasil foi o único Estado dos BRICS a votar contra a Rússia. Isso chamou a atenção em várias partes do mundo e gerou debates internos no país. 


Logo após o voto do Brasil na ONU, a embaixadora dos EUA, Bagley,  afirmou: “O Brasil está entre os muitos países que acolheram refugiados neste momento de ânsia. Aplaudimos os esforços de boa-fé dos parceiros para ajudar a alcançar a justiça e a paz que cada cidadão ucraniano merece e para ajudar a restaurar a segurança na região e garantir uma maior estabilidade econômica no mundo. Como o presidente Biden disse: ‘estamos falando sobre liberdade. Liberdade à Ucrânia. Liberdade em todos os lugares’

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *