Preparativos para a Cúpula Rússia-África 2023

18 de abril de 2023


Por Carlos Eduardo Ramos Sanches, Gustavo Alves Daniel, Gabriela Dias da Silva e Ludimila Costa Barros (Imagem: Unsplash)


O Fórum Rússia-África discutirá questões estratégicas para ambas as partes, enquanto os Estados Unidos sentem ameaça aos seus interesses no continente africano e no plano de isolamento da Rússia no cenário internacional.


Cúpula Rússia-África 2023


No próximo mês de Julho, a cidade de São Petersburgo sediará a segunda edição do Fórum Rússia-África com vistas a estreitar o relacionamento dos russos com os parceiros africanos. Serão discutidas questões que versam sobre política, segurança, economia, direito, ciência, tecnologia, causas humanitárias, informação e meio ambiente, um panorama que por si só demonstra a amplitude do encontro num momento em que a Guerra da Ucrânia provocou o distanciamento de Moscou com a maior parte da União Europeia. As delegações de mais de 50 países são aguardadas para o evento após o presidente Vladimir Putin definir as relações com as nações africanas uma prioridade do Kremlin.


A primeira edição ocorrida em 2019 resultou em acordos nucleares celebrados com Ruanda, venda de considerável contingente de material bélico para a Nigéria e na negociação de financiamentos para a construção de refinarias de petróleo no Marrocos, além de outros. No dia 4 de abril, o ministro das relações exteriores russo, Sergei Lavrov, acusou Washington de tentar prejudicar o encontro ao persuadir alguns países a não comparecerem no evento, algo que não foi diretamente rebatido pela Secretaria de Estado dos EUA, que não comentou o assunto diretamente.


Interesses dos Russos no evento 

A priori, a participação da Rússia na Cúpula Rússia-África é uma iniciativa motivada por uma série de interesses geopolíticos, que tem como objetivo fortalecer e estreitar as relações entre a Rússia e o Continente Africano. O evento viabiliza uma oportunidade para que os líderes discutam questões de interesse mútuo, como o comércio, investimento, a segurança e a cooperação em áreas de energia e tecnologia.

 Além disso, esse encontro possibilita a exposição de demandas que são relevantes para o Estado russo. Em Primeiro lugar, promover a expansão da influência geopolítica: o Kremlin pode estar interessado em promover sua presença na África como uma alternativa à influência ocidental no continente. Dessa forma, essa conferência pode ser uma oportunidade para a Rússia fortalecer sua imagem como um parceiro confiável e benéfico para a África e reduzir a influência dos Estados Unidos e da União Europeia na região, bem como, estreitar os laços diplomáticos. Visto que, não podemos esquecer, que a Rússia busca expandir sua influência global, e a África é um continente estrategicamente importante devido aos seus recursos naturais, população e posição geográfica, que se conecta com o segundo ponto, viabilizar oportunidades de negócios, uma vez que a África tem uma grande variedade de recursos naturais, incluindo petróleo, gás, metais e minerais, bem como um mercado em expansão. Os russos têm interesse em explorar oportunidades de negócios na região e a Cúpula Rússia-África é um fórum para discutir possibilidades de investimento e comércio. 

Por último, o interesse em cooperar com os países africanos em questões de segurança e defesa, sendo a cúpula um espaço estratégico para discutir acordos de cooperação militar, como vendas de armas, treinamento militar e assistência técnica. Participar da Cúpula Rússia-África ajuda a Rússia a aumentar sua presença na região e estabelecer novas alianças e garantir apoio em questões internacionais.

Perspectiva dos americanos com a cúpula

A cúpula simboliza, para os Estados Unidos, uma ameaça aos seus interesses no continente africano e no plano de isolamento da Rússia no cenário internacional, pois os países africanos estão hesitando em aderir o lado do Ocidente em relação ao conflito na Ucrânia e estão se voltando para outros países para captarem investimentos e parcerias econômicas. No começo de abril de 2022, os países africanos em sua maioria ou se abstiveram ou foram contra a suspensão dos russos no Conselho de Direitos Humanos da ONU¹, demonstrando que a maioria dos países africanos não têm interesse em se envolver nos termos do conflito e buscam uma posição independente das potências europeias e americana. Essa posição independente também se reflete militarmente no caso da África do Sul, na qual realizou exercícios militares nesse ano em parceria com exércitos da Rússia e da China².

Adicionalmente, os americanos procuram restabelecer sua posição geopolítica no continente africano perante o avanço das relações dos países africanos com atores como a China e, agora, o também avanço da Rússia. No final do ano passado, o presidente dos EUA, Joe Biden, se reuniu com os líderes das nações africanas, a última edição havia acontecido apenas em 2014 com Barack Obama, e foram prometidos mais de 55 bilhões de dólares para assuntos relacionados à segurança alimentar, mudanças climáticas e parcerias de comércio³. Com isso, os EUA vêm o evento da Rússia em conjunto com países africanos como uma ameaça aos seus próprios interesses econômicos e geopolíticos na região e um desafio mais complexo para fechar parcerias e acordos no continente.     

Perspectiva dos africanos com cúpula

Para os africanos, a cúpula Rússia-África representa uma oportunidade de estreitar laços com a Rússia e explorar possibilidades de cooperação em diversas áreas, como educação, turismo, mineração, energia e tecnologia. Além disso, a Rússia tem uma visão geopolítica que inclui um maior envolvimento na África, o que pode oferecer uma alternativa política e econômica a outras potências mundiais, como os EUA e a China.

No entanto, a participação e benefícios reais para os países africanos na cúpula Rússia-África ainda são desconhecidos e controversos, pois muitas das propostas ainda não foram concretizadas e a Rússia é vista com desconfiança em alguns países, que se lembram a Rússia apoiou os regimes autoritários da era soviética que muito dos países africano sofreram.

¹ https://news.un.org/en/story/2022/04/1115782
² https://www.reuters.com/world/washington-trying-wreck-russia-africa-summit-russias-lavrov-2023-04-04/
³ https://www.reuters.com/world/china-an-unspoken-focus-biden-woos-african-leaders-2022-12-14/

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