Os 200 anos das Relações Brasil-EUA: do reconhecimento da Independência às articulações da extrema direita

01 de agosto de 2024

 

Por Gabriel Gesteira, Isabella Lucino, Luiza Rodrigues, Mônica Peña e Ismara Izepe de Souza (Imagem: Márcio Batista/MRE)

 

Em 26 de maio de 2024, completaram-se 200 anos do estabelecimento das relações diplomáticas entre Brasil e Estados Unidos, ocorrido a partir do  reconhecimento da independência do Brasil pelos Estados Unidos, em 1824, quando  o diplomata brasileiro José Silvestre Rebello apresentou suas credenciais ao presidente norte-americano James Monroe. O Brasil foi o primeiro país latino-americano a ter um representante nos Estados Unidos.

 

Até a última década do século XIX as relações entre os dois países não foram constantes, uma vez que o Brasil mantinha ligações mais fortes com a Europa, principalmente com a Grã-Bretanha. Foram os movimentos republicanos no Brasil que utilizaram primeiro a experiência norte-americana como inspiração para aquilo que planejavam fazer aqui. As relações se estreitaram quando os Estados Unidos abriram seu mercado para o café brasileiro e se tornaram seu principal comprador.

 

De acordo com Monica Hirst (2006), as relações entre os dois países durante boa parte do século XX ocuparam um papel central na  política externa brasileira. A intensificação das relações deu-se com a percepção do Barão do Rio Branco sobre as alterações da geopolítica mundial, principalmente em relação ao protagonismo dos Estados Unidos, que muito em breve se transformariam no país mais influente e poderoso do sistema mundial. Isso fez com que o Brasil fosse, aos poucos, se distanciando da Grã-Bretanha e se aproximando de Washington, especialmente na dimensão comercial, uma vez que os EUA já se constituíam, na primeira década do século XX, como os principais compradores do café brasileiro. 

 

Mais tarde, a década de 1930 veio acompanhada de modificações nas relações Brasil-Estados Unidos. A chegada de Getúlio Vargas e de Franklin Roosevelt ao poder mudaram as relações políticas e econômicas entre os dois países. Os EUA passaram a adotar uma “política da boa vizinhança”, abandonando a postura intervencionista e assumindo uma face mais diplomática, voltada para o diálogo e a negociação em toda a América Latina, não apenas em relação ao Brasil.

 

Do início da década de 1940 até a década de 1970, o Brasil assumiu uma postura de alinhamento em relação aos Estados Unidos (Hirst, 2006). A importância da cooperação econômica e militar cresceu e o Brasil oscilou entre momentos de alinhamento automático e negociado. A participação do Brasil na 2ª Guerra Mundial ao lado dos Aliados, segundo Gerson Moura (2012), foi o resultado de uma longa negociação que rendeu ao país, no início da década de 1940, alguns resultados considerados positivos para o interesse nacional, como os recursos para a indústria de base e o reaparelhamento das Forças Armadas. Nas décadas seguintes, os Estados Unidos exerceram, cada vez mais, sua influência na América Latina, aumentando os vínculos militares, econômicos e políticos na região. O Brasil, no entanto, continuou firme no projeto econômico-desenvolvimentista que passou pelo segundo mandato de Getúlio Vargas (1951-1954), pelos planos de Juscelino Kubitschek (1956-1960), chegando, ainda, nos governos de Jânio Quadros (1961) e João Goulart (1961-1964). Nesse momento, o interesse americano de financiar o desenvolvimento brasileiro perdeu força.

 

Um período particularmente interessante por ser exemplar das tensões que muitas vezes marcaram as relações entre os dois países é o da Política Externa Independente (PEI), dos governos Quadros-Goulart, que defendia a maior autonomia internacional do Brasil. Quando as decisões do presidente João Goulart e do governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola, contrariaram os interesses norte-americanos, as relações entre os dois países estremeceram-se ao máximo, culminando no apoio dos Estados Unidos aos militares brasileiros no Golpe  de 1964, que deu início a um longo período de repressão e violência internamente.

 

Embora o governo de Castelo Branco (1964-1967) tenha desenvolvido uma política externa alinhada aos interesses estadunidenses, o viés autonomista e universalista da política externa foi se adaptando aos novos tempos. No governo de Ernesto Geisel (1974-1979), as relações Brasil-Estados Unidos entraram em outra fase. O ativismo do presidente Jimmy Carter pela defesa dos direitos humanos provocou fortes conflitos com o governo brasileiro. Apesar das divergências na área política, na área econômica as relações se fortaleciam. Nessa época, o Brasil aproximou-se ainda mais dos demais países latino-americanos, da China e da URSS.

 

Entre 1930 a 1980, o Brasil defendeu a diversificação de suas atividades econômicas e  investiu em sua industrialização. Porém, com o fim da Guerra Fria, a política neoliberal capitaneada pelos EUA fez surgir uma nova ordem internacional que  reverteu alguns dos avanços conquistados pelo país latino-americano. Houve maior pressão dos Estados Unidos sobre os investimentos e transações financeiras e comerciais, com críticas e desavenças dos dois lados. No final da década de 1980, na esfera política, começava o processo de redemocratização do Brasil, o que modificou as relações diplomáticas do país. 

 

O Plano Real (1994) mudou a imagem econômica do país externamente, apesar do descontentamento norte-americano com o programa de privatizações no Brasil, considerado incompleto e imperfeito. Mesmo assim, os Estados Unidos foram a principal fonte de investimento no país entre 1991 e 1998. Novas diferenças surgiram com o aumento da importância da questão ambiental para o Brasil que a associou a novos contextos políticos e econômicos. Nessa conjuntura, o Ministério das Relações Exteriores substituiu a postura anterior de menosprezo pelo tema pela posição ativa de diplomacia ambiental. Em contrapartida, os norte-americanos exigiram do Brasil maior responsabilidade com recursos naturais e novas condições para financiamentos foram atreladas ao desempenho do país nessa área.

 

Em meados da década de 1990, os Estados Unidos passaram a ser responsáveis por cerca de 50% do déficit da balança comercial brasileira. No final dessa década, esse saldo foi voltando a ficar positivo por dois motivos: a desvalorização do real e o aumento do comércio entre empresas nas transações bilaterais. Tanto as exportações brasileiras para os Estados Unidos como as norte-americanas para o Brasil cresceram, apesar das mútuas queixas às barreiras comerciais impostas pelos dois países.

 

No início do século XXI, a política dos governos Lula (2003-2010) se concentrou no multilateralismo, sob uma perspectiva de que o país possuía condições suficientes para atuar no cenário internacional ativamente e não mais como um coadjuvante. Nesse período as representações diplomáticas se expandiram, principalmente no continente africano e nos países do Caribe. O Brasil se reaproximou de antigos parceiros na África e no Oriente Médio, o que o fez angariar o apoio desses países em foros internacionais e recolocar o desenvolvimento como tema da agenda internacional.

 

Entre 2008 e 2015, as posições externas e internas dos dois países se alteraram. Em 2008, o Brasil começava a aparecer como uma das principais nações emergentes ao lado dos demais membros dos BRICS (à época, Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) e os Estados Unidos viviam os efeitos da crise político-econômica advinda do mercado imobiliário. Nesse período, o Brasil era considerado um dos países mais sólidos do sistema internacional, com uma política externa autônoma, cuja prioridade era a Cooperação Sul-Sul, apesar de manter, ainda, parcerias com o Norte. Em 2015, as posições se inverteram: o Brasil entrou em crise e os Estados Unidos se recuperaram da recessão.

 

A partir de 2019, a política externa brasileira, sob o comando de Bolsonaro, elegeu como inimigos o globalismo e o marxismo cultural. A subserviência ao governo Trump (2017-2021) nos Estados Unidos foi muito além do alinhamento. Os ataques à China, a principal parceira comercial do Brasil, e aos governos latino-americanos com postura ideológica contrária à extrema direita levaram o país ao isolamento político internacional. Além disso, a gestão catastrófica de Bolsonaro em relação à pandemia impulsionou ainda mais esse isolamento, colocando o país na posição de “ameaça”. Com a vitória de Joe Biden, em 2020, o Brasil perdeu seu aliado, isolando-se ainda mais internacionalmente. Outro agravante foi a postura não amistosa de Bolsonaro em relação à vitória de Joe Biden, sendo um dos últimos líderes mundiais a reconhecer sua vitória, espalhando fake news sobre supostas fraudes nas eleições norte-americanas.

 

Já no terceiro mandato do presidente Lula, a política externa  do Brasil procura resgatar o protagonismo do país internacionalmente e restabelecer as relações entre os Estados Unidos e o Brasil a partir de um patamar mais altivo, após um período sombrio e ameaçador à democracia e ao meio ambiente.Assim, consideramos que as relações entre  Brasil e Estados Unidos são consequência de estratégias de política externa de ambas as partes.

  

Em um contexto dual, além das alianças de mútuo benefício, a competição geopolítica também se faz presente e os interesses eventualmente se desencontram. Desde o início do século XXI, a relação entre Brasil e Estados Unidos é caracterizada por várias dimensões: da discussão sobre os caminhos para o desenvolvimento, a participação e articulação possível no âmbito multilateral até a esfera de cooperação que abrange da economia à segurança internacional.

 

A extrema direita, a mídia e as tentativas de golpe nas relações contemporâneas

 

A extrema direita americana, que possui múltiplos grupos que variam entre si, mas que podem ser classificados através de suas pautas e atos como grupos fascistas, racistas e reacionários, vem se fortalecendo há décadas. Atualmente, a maioria desses grupos se mobiliza para apoiar politicamente o ex-presidente Donald Trump. Os métodos dessa parcela política são agressivos, se utilizando de discursos de ódio, ameaças e até mesmo da violência. Essa extrema-direita norte-americana possui inegável influência global, visto que o país é uma potência hegemônica. Tal influência parece se refletir mais forte em países que, historicamente, estiveram sob a órbita dos EUA, que é o caso brasileiro.

 

É referido por especialistas que a direita radical americana foi responsável por influenciar a brasileira, que tem o ex-presidente Jair Bolsonaro como principal líder e expoente. Com essa nova extrema-direita no Brasil, o debate político tomou contornos de guerra cultural e a democracia, junto de suas instituições, foi ameaçada mais de uma vez. Observa-se a inegável influência que  Donald Trump exerceu sob  Bolsonaro, que inclusive “seguiu os passos” de seu ídolo em muitos momentos. Em 2019, após a eleição no Brasil, o filho do presidente, Eduardo Bolsonaro, encontrou  Trump nos EUA e procurou ganhar sua aprovação, se aproximando da extrema direita norte-americana, o que ele afirmou ter sido um “passaporte” para ser bem recebido pelos seus iguais ao redor do mundo. Isso mostra Trump como o ponto focal desse movimento político em  nível global.

 

Ao longo do governo de Jair Bolsonaro, vários foram os exemplos de alinhamentos políticos automáticos com seu homólogo estadunidense. Bolsonaro, por exemplo, fez concessões para que o Brasil pudesse entrar na Organização  para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), uma espécie de “Clube de Países Ricos”, que auxilia no desenvolvimento e estabilidade financeira  dos países membros. O maior passo do brasileiro nessa direção foi a renúncia do tratamento diferenciado na Organização Mundial do Comércio (OMC), que permite aos países emergentes equilibrarem-se na arena comercial com os países mais ricos, além de proteger suas economias. Ao fazer isso, Bolsonaro não só criou um risco econômico para o país como também afastou a política externa brasileira de sua tradição de busca pelo pragmatismo e pela liderança dentre os países em desenvolvimento.  O Brasil nunca chegou a ingressar na OCDE, apesar dos EUA terem anunciado o país como potencial ingressante. Para além da política comercial, os dois líderes se alinharam quanto ao negacionismo científico, seja na área da saúde, no tratamento que deram à pandemia de Covid-19, como também na área ambiental, especialmente em relação às mudanças climáticas.

 

Em 2021, com a derrota de Trump e a chegada de Biden ao poder, a situação  entre os dois países se alterou. O primeiro momento de tensão deu-se  com a invasão ao Capitólio, em 6 de Janeiro de 2021, com  a tentativa de grupos de extrema-direita pró-Trump de reverter as eleições. Depois disso, com a eleições brasileiras se aproximando, Joe Biden e sua administração se esforçaram para dissuadir Jair Bolsonaro de efetivar um golpe, pois sabiam que o homem que se intitulava o “Trump dos trópicos” tentaria utilizar das mesmas jogadas de seu “ídolo”, algo que já estava em curso, pois Bolsonaro procurou descredibilizar a democracia e o sistema eleitoral brasileiro, assim como Trump fez nos EUA. Apesar da divergência ideológica, fontes evidenciam  que Bolsonaro pediu a ajuda de Biden para conseguir a reeleição, sob o argumento que a eleição de Lula iria contra os interesses norte-americanos. Biden então, teria mudado de  assunto e reafirmado a importância de preservar a integridade das eleições.

 

 Há evidências, inclusive, de que o governo Biden procurou evitar que os militares brasileiros participassem de um golpe, pois, diferente dos militares americanos, os brasileiros tem um histórico de envolvimento com a política a partir de uma perspectiva intervencionista, se considerando “salvadores da democracia” quando há um resultado que discordam. Os militares, que foram apoiados pelos EUA em 1964, quando derrubaram o governo democrático brasileiro, provavelmente não se arriscariam a repetir o feito golpista em um cenário no qual a grande potência se posicionou de forma contrária.

 

Essas repetições da escalada golpista de Trump por Bolsonaro não poderiam levar a um caminho diferente. Dois anos depois, no dia 8 de Janeiro de 2023, os apoiadores de Bolsonaro, em uma tentativa de contornar o resultado eleitoral que consagrou Luiz Inácio Lula da Silva como o novo presidente, atacaram a praça dos três poderes em Brasília, sede dos órgãos do Executivo, , Congresso Nacional e Supremo Tribunal Federal, em um movimento claramente inspirado no incidente norte-americano. As redes sociais acabaram sendo um meio da extrema-direita brasileira propagar desinformação, se articular e desacreditar o processo eleitoral, chegando inclusive a receber apoio da direita radical norte-americana, com perfis norte-americanos (e de brasileiros que moram nos EUA) ajudando na divulgação e amplificação das mensagens com conteúdo falso. Merece  destaque  a participação do estrategista de Donald Trump, Steve Bannon, que buscou desacreditar a eleição brasileira desde o fim do primeiro turno, através de suas redes sociais e de seu podcast, com os convidados do seu programa também replicando as desinformações. Bannon inclusive foi responsável por criar a hashtag “Brazilian Spring”, tentando emplacar o 8 de janeiro como uma manifestação similar às que aconteceram em países árabes contra ditaduras históricas, o que já mostra a contradição da ideia, devido ao governo Lula ter tomado posse somente  oito  dias antes dos atentados, a partir de eleições democráticas. E qual foi a visão da mídia norte-americana sobre o 8 de janeiro?  Através da classificação estipulada pelo site All Sides sobre o viés de mídias norte-americanas, selecionamos três jornais: CNN, Reuters e Fox News. A CNN, indicada como de esquerda moderada, classificou o evento como um ataque violento à democracia brasileira e expôs argumentos para dar suporte à ideia da responsabilidade de Jair Bolsonaro, por ter atacado o processo eleitoral repetidas vezes nos meses anteriores à eleição. A mídia identificada com a esquerda também trouxe à tona a influência de Trump sobre  Bolsonaro, mas descrevendo a diferença de comportamento após o ataque: enquanto Trump estava em contato direto com seus apoiadores no período, Bolsonaro havia se retirado do país, chegando inclusive a condenar as depredações realizadas, mas minimizando o fato ao citar outros protestos de anos anteriores atribuídos à iniciativas da esquerda. Porém, a CNN realçou o papel de Trump e Bolsonaro nos eventos ao se recusarem a admitir a derrota pelo voto nas eleições.

 

A Reuters, mídia identificada como de centro, classificou o ato como uma invasão à praça dos 3 poderes por apoiadores do presidente de extrema-direita. O site destacou também o repúdio de líderes globais de diferentes espectros políticos aos ataques no Brasil, como Narendra Modi, representante da direita na Índia, Emmanuel Macron, da direita francesa, assim como os presidentes de esquerda do Chile, Gabriel Boric, e da Colômbia, Gustavo Petro. Além do próprio repúdio do presidente norte-americano Joe Biden. Em outra reportagem, a mídia centrista deixou claro que via a influência da invasão ao Capitólio no 8 de Janeiro e chamou a atenção às depredações praticadas nos prédios públicos tanto em Brasília como em Washington, além de ressaltar a preocupação do governo brasileiro com o despreparo das suas forças de segurança da capital federal. A Reuters também trouxe à tona o embate entre o presidente Lula e Bolsonaro, com o primeiro indicando a influência que o líder de extrema direita teve no ataque através das redes sociais, mesmo estando em Miami. Bolsonaro repudiou as alegações de Lula. 

 

Por fim, a Fox News, identificada no espectro político da direita, classificou o 8 de janeiro como um ataque à sede do governo brasileiro semelhante às demais mídias. Porém chama a atenção a cobertura da Fox sobre o desenrolar do processo, especialmente referente aos julgamentos daqueles envolvidos no atentado. Em um vídeo de 3 minutos da Fox News  o jornalista Tucker Carlson entrevistou Glenn Greenwald, um jornalista norte-americano atuante no Brasil. Tucker indica que a Suprema Corte estaria ganhando poder demais, além de achar problemático o combate de Fake News pelo governo Lula. No vídeo, aparece a imagem da bandeira do Brasil com a legenda “Regime Censurador” em inglês.  Já o entrevistado, afirmou  que o Brasil está se tornando uma “Tirania do Judiciário”, na qual  um juiz tem poder de prender pessoas, banir redes sociais e dar ultimatos para as empresas de mídia que não cumprirem as regras. Para Green, as prisões daqueles responsabilizados pelos atos golpistas foram arbitrárias, não havendo justificativas para as mesmas, alegando também  haver uma censura a representantes eleitos de direita, que inclusive tinham sido alguns dos mais votados em 2023.

 

Isso nos leva a considerar  que, para Glenn, a liberdade de expressão (e a força numérica dos votos) é maior do que a democracia em si, porque esses representantes estavam divulgando conteúdos que minavam a confiança ou incentivavam a ação contra as instituições democráticas (principalmente ao dar suporte aos eventos do 8 de janeiro). Um deputado ter uma votação numérica expressiva não dá a ele o  direito de apoiar e divulgar conteúdos que vão contra a democracia, pois isso seria um crime. Porém, Greenwald realçou o acúmulo de poder de Alexandre de Moraes, ministro do STF, dizendo que a situação havia chegado em um ponto em que as pessoas teriam medo de criticar  representantes oficiais do governo. O jornalista defendia  assim, mais uma vez, a ideia da liberdade de expressão acima da democracia, ignorando o teor das críticas da extrema-direita, que muitas vezes iam além da  conduta dos ministros  do Supremo, atacando também o sistema democrático.

 

Assim, podemos observar que, apesar de haver concordância em qualificar o 8 de janeiro como um ataque, a mídia de direita nos EUA buscou blindar os  envolvidos, usando um argumento da violação da liberdade de expressão, entre outras acusações, para desviar o foco dos crimes cometidos contra a estabilidade democrática. Nesse ponto, a mídia de direita americana tem pontos de encontro com a da extrema direita brasileira, que busca seguir o mesmo caminho, como se pode observar através da leitura das reportagens da Revista Oeste, à época.

 

Finalizando o breve panorama apresentado, podemos afirmar que nestes 200 anos, muitos foram os momentos em que Brasil e EUA estiveram em concordância e muitos foram aqueles em que divergiram. Houve alterações significativas  na situação interna dos dois países, como no período entre  2008 e 2015. Em que pese os encontros e desencontros ocorridos  em suas relações bilaterais  (refletindo as estratégias de suas políticas internas), as trocas entre Brasil e EUA, sejam de natureza comercial e/ou financeira, sempre foram importantes, especialmente na conformação dos projetos políticos brasileiros ao longo de diferentes governos. Porém, um novo avanço da extrema-direita, com uma possível eleição de Donald Trump nos Estados Unidos e seu retorno à presidência em novembro próximo, representará um perigo para as relações com o Brasil. E mais grave que isso, representará uma ameaça às democracias do mundo todo.

 

Referências bibliográficas

 

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HIRST, Mônica. Os cinco “AS“ das relações Brasil-Estados Unidos: aliança, alinhamento, autonomia, ajustamento e afirmação. p. 91-127. in OLIVEIRA, Henrique Alemani de; LESSA, Antonio Carlos (Org.). Relações Internacionais do Brasil: Temas e Agendas. Vol. 1. São Paulo: Saraiva, 2006. Disponível em https://drive.google.com/drive/folders/1xe0kjVf88wvThVdAXV6TVz-ZACOIwHa1. Acesso em 24/07/2024.

 

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SOUZA, Ismara Izepe de. O Brasil no Mundo: Política externa em perspectiva histórica. p. 291-310; in BRANCO, Marcello Simão; SOUZA, Claudia Moraes de. Brasil 200 anos: trajetória, identidade e desafios. 1ª Ed. São Paulo: Alameda, 2022. Disponível em https://drive.google.com/drive/folders/1xe0kjVf88wvThVdAXV6TVz-ZACOIwHa1. Acesso em 25/07/2024.

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