26 de Julho de 2022
Por Fernanda Antoniazzo Ribeiro, Guilherme Rodrigues Masson, Tatiana Berringer e Tuany Alves Nascimento (Foto: Alan Santos/PR)
Em déficit comercial histórico com os Estados Unidos, Brasil registra aumento de 43% no comércio bilateral, com destaque para importação de produtos do setor petroquímico e exportação de madeira, carne bovina e petróleo bruto
As relações bilaterais entre Brasil e Estados Unidos no governo Bolsonaro têm como pilar o acordo firmado no Protocolo ATEC, baseado em regras comerciais e de transparência. O protocolo assinado em 2020 entrou em vigor em fevereiro deste ano, e atualiza o Acordo de Cooperação Econômica e Comercial (ATEC) de 2011. Desde então, é possível avaliar se houve impacto desse protocolo no comércio bilateral?
O documento é dividido em três anexos: Facilitação de Comércio, Boas Práticas Regulatórias e Anticorrupção. O primeiro anexo contempla a simplificação dos procedimentos de operações de importação, exportação e trânsito de bens, além de dar enfoque no comércio legítimo e franco, dando relevância à transparência na publicação da legislação relevante. Já o segundo anexo visa melhorar a qualidade da regulação, assegurando transparência, previsibilidade e concorrência nos negócios entre os dois países. Por fim, o terceiro e último anexo trata do combate à corrupção em acordos comerciais no âmbito global.
O primeiro semestre de 2022 registrou aumento de mais de 43% no comércio bilateral entre Brasil e Estados Unidos, se comparado aos seis primeiros meses de 2021, segundo o Monitor do Comércio Brasil-EUA da Amcham Brasil, superamos o patamar de US$43 bilhões.
No que se refere às importações¹ dos EUA no período de janeiro a julho de 2022, em comparação com o mesmo período de 2021, chama a atenção o aumento na compra de produtos do setor petroquímico. O valor da compra de óleo diesel, primeiro produto mais importado dos EUA, foi da casa de 1 bilhão ($1.641.311.245) para a casa de 3 bilhões ($3.271.008.793) no ano de 2022. Também foi bastante considerável o aumento na compra de gás natural liquefeito (de $1.079.733.061 para $2.363.099.876), de óleos brutos de petróleo (de $544.726.865 para $1.617.595.454) e de naftas para petroquímica (de $847.966.640 para $1.285.006.975).
Já no cenário da exportação para os EUA, o Brasil mantém um certo crescimento, cerca de 32% em relação ao primeiro semestre de 2021, destacando-se a madeira, carne bovina, equipamentos de engenharia civil, petróleo bruto (aumento de 54,4% em volume e 121% em valor) e produtos do setor siderúrgico (US $17,7 bilhões); ferro-gusa e semi-acabado de ferro (US $4,7 bilhões).
Apesar dos números, é importante destacar que há um desequilíbrio da balança comercial brasileira, o país atinge um déficit comercial histórico com os Estados Unidos de US $7,4 bilhões.
O vice-presidente Executivo da Amcham Brasil, Abrão Neto, afirma que “O comércio bilateral seguiu bastante aquecido. O aumento dos preços internacionais e, em menor medida, da demanda de produtos importantes da pauta bilateral, levaram a valores inéditos nas importações e exportações brasileiras em relação aos EUA”. Muitos especialistas relacionam esses resultados também à Guerra Ucrânia-Rússia e suas consequências nas altas dos preços de diversos produtos.
Observar o aumento das importações desse setor após o acordo comercial pode ajudar a demonstrar o interesse que o lobby estadunidense teve na influência sobre o acordo. Empresas de variados setores investiram pesadamente para obter influência sobre o acordo comercial, dentre elas, empresas do setor químico, eletrônico e farmacêutico. Para esses grupos, influenciar acordos de comércio facilita não só a compra de insumos mais baratos, como também a expansão de seus mercados consumidores.
Podemos pensar que o lobby do setor de eletrônicos, por exemplo, visa não só a importação de matéria prima brasileira mais barata, mas também o aumento das importações de eletrônicos estadunidenses frente à concorrência chinesa, visto que a importação de compostos eletrônicos chineses, como partes de aparelhos telefônicos ($402.364.942), de conversores elétricos ($378.310.276) e de processadores, controladores e outros circuitos ($338.105.526), tem figurado entre os 10 produtos mais importados da China em 2022. Por outro lado, dentre os dez produtos mais importados dos EUA em 2022, figuram predominantemente aqueles pertencentes à indústria petroquímica, exceto pela importação de partes de turborreatores ou de turbopropulsores ($959.641.207) e de turborreatores ($920.441.358), em sexta e sétima posição.
¹ Fonte: Comexstat