Inelegibilidade de Bolsonaro e a reação da direita nos EUA

25 de julho de 2023

 

Por Ana Carolina Carvalho de Oliveira, Camila Micheletti Flores, Fernanda Messias Moretti, Gabriela Fernandes Nabuco de Araujo, Marina Tedesco Alvarenga, Patricia Lima Rego e Tatiana Berringer (Imagem: Cleber Caetano/PR)

 

Recentemente, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) proferiu uma decisão que gerou intensos debates no cenário político brasileiro e levantou reflexões sobre o futuro da direita conservadora no país. Em 30 de Junho de 2023, o ex-presidente Jair Bolsonaro foi condenado por abuso de poder e uso indevido dos meios de comunicação durante a sua campanha eleitoral em 2022. As acusações estavam relacionadas a uma reunião controversa com embaixadores, onde teria divulgado informações falsas sobre a segurança das urnas eletrônicas, ameaçando a confiabilidade das eleições no Brasil.

 

No dia 30 de Junho de 2023, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) retomou o julgamento que condenou Jair Bolsonaro por abuso de poder e uso indevido dos meios de comunicação. A condenação teve como mote a  reunião do então presidente com diversos embaixadores, realizada alguns meses antes do pleito eleitoral de 2022. Na ocasião, Bolsonaro teria divulgado aos embaixadores informações falsas sobre a segurança das urnas, pondo em risco a confiabilidade das eleições no Brasil. Foi parte da campanha de difamação ao sistema eleitoral brasileiro. Além disso, em lives semanais, o ex-presidente também fez ataques ao sistema eleitoral dos EUA, referendando a campanha anti-democrática de Donald Trump, seu aliado político. 

 

A Ação de Investigação Judicial Eleitoral (Aije) apresentou acusações de abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação na referida reunião com os embaixadores. A decisão judicial, por maioria de votos, o Plenário do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) declarou a inelegibilidade do ex-presidente da República, Jair Bolsonaro, por oito anos, contados a partir do primeiro turno das eleições presidenciais de 2022, tornando-o, portanto, inelegível até 2030. O veredito tem como objetivo preservar a integridade do processo eleitoral e punir as irregularidades da campanha do ex-presidente. 

 

A inelegibilidade de Bolsonaro determinada por oito anos por suas falsas afirmações contra o sistema eleitoral e as urnas eletrônicas, a propagação de fake news, dentre outros crimes, tomou grande repercussão internacional. O jornal britânico  The Guardian afirma que Bolsonaro foi proibido de concorrer a cargos políticos por “vender mentiras imorais”.  A mídia brasileira expressou posição positiva sobre a condenação do ex-presidente. O jornal Estadão afirmou que a inelegibilidade de Bolsonaro, ainda que tardia, “presta a proteger o regime democrático”. Já os colunistas do G1 disseram ser “um recado muito contundente da Justiça para quem daqui pra frente tentar, ousar fazer o mesmo” e que a falta de responsabilidade do ex-presidente não apenas caracteriza sua resposta à decisão do TSE, mas também define seu governo, uma vez que as mentiras e as desinformações propagadas nos últimos quatro anos de seu governo ameaçaram a democracia vigente.

 

O jornal Metrópoles elaborou  uma tabela comparando as  acusações e os processos de dois ex-presidentes do Brasil e dos EUA, Jair Bolsonaro e Donald Trump. Destacam similaridades entre os processos. Bolsonaro é acusado por abuso de poder político e de ter incentivado a invasão ao Congresso em 8 de janeiro de 2023, e Trump também é investigado sobre a tentativa de reverter os resultados das eleições em 2020, e incitar a invasão ao Capitólio no dia 4 de janeiro de 2021. Entretanto, mostra-se as diferenças do arcabouço jurídico dos dois países. Nos Estados Unidos não há Justiça Eleitoral. Além disso, Trump virou réu de duas acusações que o condenavam a respeito de um possível suborno de 130 mil dólares para que uma atriz de filmes adultos não revelasse um suposto caso extraconjugal dele e de ter retirado da Casa Branca documentos sigilosos depois de sua governança. Assim, embora esteja sendo investigado por cometer crimes parecidos, Trump, até então, não corre o risco de ser barrado de disputar por cargos públicos, podendo, inclusive, concorrer à Casa Branca mesmo que tenha sido preso. Além disso, depois que virou réu dessas condenações, as doações para sua campanha eleitoral subiram cerca de 86%, uma vez que os republicanos acreditam que as ações são politicamente motivadas. 

 

Segundo o  New York Times, com a inegibilidade de Bolsonaro, parte da direita conservadora considera que o cenário político internacional encontra-se caótico, já que ele era a principal liderança do movimento de extrema direita no Brasil. A inelegibilidade coloca em xeque o futuro do bolsonarismo. Para o cientista político André César, a presença do ex-presidente nos bastidores ainda será um fator de peso: “O discurso, a narrativa que pode ser criada em cima da inelegibilidade, pode ajudar muito a fortalecer certas práticas dessa direita em termos de ação”, destacou em entrevista para o jornal UOL. 

 

Em uma notícia publicada pela BBC news, especialistas se dividem na possibilidade da extrema direita continua forte com novas figuras, como o governador da Flórida Ron DeSantis, que vem sendo um nome muito cotado para concorrer pelo partido republicano às eleições nos EUA, e o governador de São Paulo, Tarcisio de Freitas, do Republicanos, como forte candidato para as próximas eleições no Brasil. 

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