Resultado do primeiro turno das eleições da Argentina

02 de novembro de 2023


 Por Bárbara Fasolin Koboyama e Rafaela Castilho Miranda (Imagem: Unsplash)


No domingo dia 22 de outubro, os argentinos saíram às urnas para o primeiro turno das eleições. O resultado foi divulgado na noite do mesmo dia. 

O candidato peronista e atual ministro da Economia, Sérgio Massa, saiu vitorioso, com 36,68% dos votos. Enquanto isso, o candidato ultraliberal, Javier Milei, alcançou 29,98% dos votos, ficando em segundo lugar e disputará o segundo turno contra Massa. Ainda vale mencionar que a candidata macrista, Patricia Bullrich, ficou em terceiro lugar com 23,83% do total de votos, seguida do candidato Juan Schiaretti e da candidata Myriam Bregman, que tiveram 6,8% e 2,7% dos votos, respectivamente.

As eleições presidenciais argentinas vão a balotaje, ou segundo turno, se nenhum candidato obtiver 45% dos votos mais 1 ou alcançar mais de 40% dos votos com uma diferença de 10 pontos para o segundo candidato mais votado no primeiro turno. Isso enfatiza a importância de um amplo apoio popular para os candidatos presidenciais e promove a estabilidade política. O segundo turno das eleições presidenciais da Argentina é realizado 30 dias após o primeiro turno.

No caso das atuais eleições, a nova rodada de votações para a Presidência da República está prevista para o dia 19 de novembro, entre 8h e 18h, segundo as autoridades eleitorais do país. Participarão das eleições apenas as duas candidaturas mais votadas no primeiro turno, sendo eleita aquela que obtiver maior número de votos afirmativos validamente emitidos.

Comparação com as PASO

O resultado do primeiro turno surpreendeu os eleitores. Na etapa das PASO – Primarias, Abiertas, Simultáneas y Obligatorias – chamadas eleições primárias -, que ocorreu em agosto, a chapa de Milei havia conquistado o primeiro lugar, com 30% dos votos do eleitorado

Ainda antes do primeiro turno, boa parte das pesquisas eleitorais apontava a liderança do candidato ultraliberal no primeiro turno. 

Como mencionado no artigo do OPEB, publicado em 22 de agosto de 2023, sobre o resultado das PASO, o candidato de extrema-direita, reproduz discursos e comportamentos que se tornaram padrão entre líderes de extrema direita, que até o período das PASO estava ganhando grande relevância no cenário eleitoral argentino. Além disso, outro artigo do OPEB, publicado em 6 de setembro de 2023, comenta sobre as ameaças que as propostas e posicionamentos de Milei, e do neoliberalismo, trazem à integração latino-americana.

É possível observar um quadro bem diferente do cenário de Milei e Massa entre os resultados obtidos nas PASO até as eleições do primeiro turno. O ministro da Economia, Sérgio Massa, logrou um crescimento de 3 milhões de votos entre as duas disputas. Seu desempenho e crescimento se deu principalmente graças ao eleitorado da Província de Buenos Aires. O movimento possui capacidade de mobilização, de articulação, militância muito forte e estrutura partidária relevante que pode ter impulsionado esse crescimento.

Disputa pelos votos

O destaque das disputas iniciais do processo eleitoral no resultado das PASO foi a vitória de Milei, com 30% dos votos, enquanto na etapa seguinte se destacou a virada do peronismo. A surpreendente dianteira de Massa, com 36,7% dos votos demonstra uma esperança para o país no enfrentamento de uma onda neoliberal, bem como de desafios pontuais.


Ainda é importante retomar que as abstenções foram expressivas em ambos momentos do processo eleitoral. Houve 77,65% de participação no primeiro turno, sendo 2,04% votos brancos e 0,81% de votos nulos, o que já corresponde mais do que nas PASO, que obteve apenas 69,62% de participação.


Essas eleições demonstraram uma situação complexa. O artigo do OPEB, publicado em setembro sobre as eleições primárias, explica que foi um acontecimento inédito que o candidato mais votado tenha perdido da província de Buenos Aires e na Ciudad Autónoma de Buenos Aires e ganhado nas demais províncias. Devido a concentração populacional desproporcional do país nessa província e na capital federal, é este o  eleitorado que costuma definir as eleições. No entanto, houve o oposto esse ano.


O resultado de vitória para Sérgio Massa na província de Buenos Aires e de vitória para Patricia Bullrich em CABA se manteve, porém dessa vez o resultado da província esteve em acordo com o resultado geral e os votos do eleitorado de CABA serão decisivos em novembro.


Pode-se perceber através de uma análise do resultado que o maior desafio será pelos votos do eleitorado de Bullrich e pelos dos que votaram em branco ou nulo e pela possibilidade de conseguir a confiança dos cidadãos que se abstiveram ao não ir votar. É possível notar esse confronto no discurso tanto de Massa quanto de Milei após o resultado das eleições.


O discurso de Milei demonstrou diversas falas em busca do eleitorado de Bullrich, através de uma aliança contra o kirchnerismo. Enquanto isso, o discurso de Massa agradece pela confiança dos eleitores e relembra o perigo que o país corre.


Uma das possíveis estratégias da campanha de Massa, demonstrada em seu discurso após a vitória no primeiro turno, consiste em se afastar publicamente da imagem dos governos Kirchner e Fernandez, devido a forte rejeição nacional. Além disso, o discurso enfatiza a busca por se aproximar de uma união contra a extrema direita de Milei e suas propostas ultraliberais.


A situação econômica do atual governo é um dos desafios para a campanha de Massa, visto que ele é o ministro da Economia. Ainda que a atual crise econômica da Argentina tenha início com o acordo com o FMI durante o governo Macri em 2018, o cenário leva vários argentinos a considerar somente as políticas do governo de Alberto Fernandez. Por isso, a campanha agora consiste em formar um governo de unidade nacional.


Segundo o jornal El País, Massa se reuniu com 18 dos 24 governadores para contar com o apoio nas eleições. O jornal  ainda menciona que o partido peronista, Unión por la Patria, perdeu para o partido macrista, Juntos por el Cambio, em 6 províncias nas eleições para governadores e que esses governadores se mantiveram neutros. Esse posicionamento ocorre devido a sua posição antiperonista e pelas declarações de Milei, que levou sua campanha até então contra ambos, kirchnerismo e macrismo.

Por outro lado, de acordo com o jornal Página 12, a candidata Patricia Bullrich não tardou a se contradizer ao que vinha sendo sua campanha e apoiar o Milei, assim como ele também se contradiz ao buscar apoio. Ambos os candidatos compartilham a intenção de se opor ao kirchnerismo.


Apesar do posicionamento dos governadores e candidatos em apoiar Massa ou Milei, o maior índice de não comparecimento e de votos brancos e nulos desde a redemocratização do país expressam o descontentamento do eleitor argentino. Logo, a frase de Sergio Massa em seu discurso de que “Sé que muchos de los que no votaron son los que más están sufriendo. No les voy a fallar” demonstra uma busca pela confiança desses cidadãos.

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