O que a atuação de Bolsonaro na Assembleia Geral da ONU revelou sobre sua agenda internacional

18 de outubro de 2022


Por Marina Tedesco Alvarenga (Foto: Agência Brasil) 

 

Presidente não se aprofundou em propostas para a política externa do país, ressaltou elementos conservadores que denotam caráter ideológico, não compareceu a encontro com o Secretário Geral da ONU e centrou seu discurso em feitos amplamente questionados no país


Conforme tradição de mais de 70 anos, o chefe de Estado brasileiro foi o primeiro a discursar na Assembleia Geral da ONU, em setembro. Jair Bolsonaro foi considerado moderado em comparação aos seus discursos nos anos anteriores, em que questionava as instâncias internacionais e criticava a esquerda de maneira mais explícita. Seu discurso menos agressivo refletiu o cenário eleitoral no Brasil, com o candidato do PL ocupando o segundo lugar nas pesquisas eleitorais. 

 

O presidente também tinha na agenda um encontro importante com António Guterres, Secretário Geral da ONU. Um dos temas da reunião seria a reforma do Conselho de Segurança, com participação permanente do Brasil. Contudo, Bolsonaro não compareceu à reunião.

 

A visita de Bolsonaro a Nova Iorque foi acompanhada por manifestantes contrários ao presidente, carregando faixas com os dizeres “Brasileiros contra o fascismo” e “51 imóveis em dinheiro vivo”. Imagens de Jair Bolsonaro foram projetadas no prédio da ONU, com expressões como “Brazilian shame”, intervenção da US Network for Democracy in Brazil que reúne acadêmicos, organizações da sociedade civil e diversos ativistas. Houve, ainda, uma projeção de imagens do presidente brasileiro no topo do Empire State Building

 

No discurso, Bolsonaro tangenciou uma ou outra pauta internacional e rapidamente listou êxitos de seu governo. Entre as pautas internacionais, o presidente  afirmou que a agenda do desenvolvimento sustentável é impactada por ameaças à paz e à segurança internacional, fazendo alusão ao conflito entre Rússia e Ucrânia, que tem entre suas consequências o aumento dos preços dos alimentos, combustível e matérias-primas no mundo todo. 

 

Ele afirmou não acreditar que “a melhor solução é adotar medidas unilaterais e sanções seletivas, que são inconsistentes com o direito internacional”. Ainda alinhado com a posição do Itamaraty, disse que a solução para o conflito na Ucrânia seria encontrada no diálogo. A guerra, segundo o presidente brasileiro, “serve de alerta” para que haja uma reestruturação da ONU e, ao ressaltar que o Brasil já ocupou um assento rotativo no Conselho de Segurança 11 vezes, reforçou que o órgão precisa buscar “soluções inovadoras”.  

 

Ao discursar sobre os feitos de seu governo, Bolsonaro incluiu entre eles o auxílio emergencial dado à população mais vulnerável para protegê-las das consequências econômicas decorrentes da pandemia do COVID-19. Para isso, apresentou o dado de que o programa beneficiou um terço da população brasileira. No entanto, por mais que verídica, a informação é parcial, uma vez que a política do auxílio emergencial só vingou por pressão da oposição. 

 

Este padrão de meias-verdades voltou a aparecer em seu discurso ao afirmar que “quando o Brasil se manifesta sobre a agenda da saúde pública, fazemos isso com a autoridade de um governo que, durante a pandemia da Covid-19, não poupou esforços para salvar vidas”. Novamente, apesar da veracidade dos dados, o real motivo do êxito na campanha e na produção de vacinas no Brasil não foi mérito do governo federal. 

 

Além disso, ainda que não fosse seu foco, o discurso do presidente brasileiro não deixou de citar elementos conservadores, que ilustram seu caráter ideológico, defendendo que “os valores fundamentais da sociedade brasileira, refletidos na agenda dos direitos humanos, são a defesa da família, a concepção do direito à vida e o repúdio à ideologia de gênero”

 

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